A mudança de rumo da franquia Dragon Age

A franquia Dragon Age, que começou com um foco tático e estratégico em Origins, foi gradualmente se transformando em um jogo mais voltado para a ação. David Gaider, ex-roteirista da série, revelou que essa mudança foi impulsionada pela Electronic Arts (EA), que adquiriu a BioWare em 2007.

Segundo Gaider, a EA considerava o estilo original de Dragon Age "lento e desajeitado", preferindo uma abordagem mais "ágil e estilosa". Ele tentou argumentar em favor das mecânicas clássicas, mas a visão da empresa prevaleceu: o RPG tático era visto como algo "ultrapassado".

Combate tático em Dragon Age: Origins

A "Caverna dos Nerds" e a busca por um público maior

Gaider compartilhou um insight revelador: a EA acreditava que os fãs hardcore de RPG — chamados de "nerds da caverna" — sempre apareceriam, independentemente das mudanças. O foco, portanto, era atrair um público mais casual.

"Você fazia um RPG e os nerds na caverna sempre apareciam [...] Era preciso se preocupar com as pessoas que não estavam na caverna, que era o público que realmente queríamos."

Essa mentalidade reflete uma divergência fundamental entre a BioWare e a EA. Enquanto o estúdio buscava prestígio crítico, a publisher priorizava resultados comerciais.

O impacto da aquisição e a saída de Gaider

Gaider descreve seu tempo na BioWare independente como "glorioso", mas após a aquisição, a cultura começou a mudar. Ele deixou a empresa em 2016, frustrado com a desvalorização dos roteiristas e com a direção que a franquia estava tomando.

O ex-roteirista foi categórico sobre o que teria acontecido se tivesse ficado: "Eu não teria sobrevivido [...] ao 'agora estamos fazendo este jogo como serviço de Dragon Age'." Felizmente, após o fracasso de Anthem, a BioWare abandonou os planos de transformar Dragon Age: The Veilguard em um live service.

Fonte: GamesRadar

As consequências da mudança de direção

A transição para um estilo mais action-oriented trouxe resultados mistos. Enquanto Dragon Age II foi criticado por seus cenários repetitivos e combate simplificado, Inquisition encontrou um equilíbrio melhor — ganhando o prêmio de Jogo do Ano no The Game Awards 2014. Mas mesmo esse sucesso veio com ressalvas dos fãs mais antigos.

Um desenvolvedor anônimo que trabalhou na série comentou: "Perdemos parte da essência que fez Origins especial. O combate tático dava uma sensação de que suas escolhas realmente importavam, não apenas na narrativa, mas no gameplay." Essa tensão entre acessibilidade e profundidade tornou-se uma marca registrada da franquia pós-EA.

Combate em Dragon Age: Inquisition

O dilema dos RPGs modernos

A história de Dragon Age reflete um debate mais amplo na indústria. RPGs ocidentais como The Witcher 3 e Elden Ring provaram que é possível unir complexidade mecânica com apelo massivo. Mas a EA, pelo menos na época, parecia acreditar que essa não era a fórmula certa.

Curiosamente, a própria BioWare já havia demonstrado essa capacidade com a série Mass Effect, que equilibrava elementos de RPG e ação de forma mais harmoniosa. Por que então a resistência com Dragon Age? Gaider sugere que havia "uma percepção de que fantasias medievais precisavam ser mais cinematográficas para competir" — uma visão que ignorava o sucesso de franquias como The Elder Scrolls.

"Havia uma pressão constante para tornar tudo mais rápido, mais intuitivo. Às vezes isso significava cortar sistemas que davam profundidade ao jogo."

O futuro incerto da franquia

Com The Veilguard no horizonte, a BioWare parece estar tentando reconciliar essas visões conflitantes. O jogo promete trazer de volta elementos táticos, mas mantendo o ritmo acelerado que os jogadores modernos esperam. Será o suficiente para agradar tanto os "nerds da caverna" quanto o público casual?

Alguns fãs permanecem céticos. Um membro veterano da comunidade Dragon Age comentou: "Depois de Inquisition e Andromeda, é difícil confiar que vão respeitar as origens da série. Precisamos de mais do que promessas." Outros, porém, estão otimistas com o retorno de figuras como Mark Darrah, um dos criadores originais da franquia, como consultor.

O que fica claro é que a tensão entre arte e comércio — entre visão criativa e demandas de mercado — continuará moldando o destino de Dragon Age. Enquanto isso, os fãs aguardam para ver se The Veilguard conseguirá capturar a magia dos primeiros jogos sem alienar os novos jogadores.

Com informações do: Game Vicio