Como o primeiro GTA antecipou elementos dos roguelikes modernos
Quando o original Grand Theft Auto foi lançado em 1997, poucos imaginariam que seu design de jogo anteciparia uma das tendências mais populares das últimas décadas: os roguelikes. A mecânica de perda permanente, característica marcante do gênero, já estava presente na experiência do jogo desde sua primeira versão.
Imagine só: você está dirigindo pela cidade, acumulando pontos e fugindo da polícia quando, de repente, é pego em uma emboscada. Game over. Tudo o que conquistou naquela sessão se perde. Soa familiar? Essa sensação de risco constante e progresso frágil é exatamente o que define muitos roguelikes atuais.
Os paralelos entre GTA clássico e roguelikes contemporâneos
Analisando mais profundamente, encontramos várias semelhanças:
Sessões individuais com começo, meio e fim claros
Progresso que pode ser perdido completamente após a morte
Geração procedural de elementos do jogo (no caso do GTA, o posicionamento de veículos e policiais)
Dificuldade progressiva conforme o jogador avança
Curiosamente, enquanto os roguelikes modernos muitas vezes são vistos como inovadores por trazerem essas mecânicas, o primeiro GTA já as utilizava de forma crua mas eficaz. Será que os desenvolvedores da DMA Design (hoje Rockstar North) estavam à frente de seu tempo?
O design inovador que poucos notaram na época
O que mais impressiona ao revisitar o GTA original é como seu design minimalista escondia uma profundidade que só seria plenamente apreciada anos depois. Enquanto os jogos da época buscavam narrativas lineares e progresso garantido, a equipe de desenvolvimento optou por um caminho radicalmente diferente - e inadvertidamente criou um protótipo do que viria a ser o roguelike moderno.
Na minha experiência revisitando o jogo recentemente, fiquei surpreso com quantas decisões de design pareciam prever tendências futuras. A aleatoriedade no tráfego, por exemplo, garantia que nenhuma jogada fosse exatamente igual à anterior - exatamente como a geração procedural em jogos como Dead Cells ou Hades faz hoje.
Por que essa comparação importa para os fãs atuais
Entender essas raízes ajuda a explicar por que a franquia GTA evoluiu da maneira que conhecemos. Quando você joga GTA V e morre durante uma missão, apenas para recomeçar em um ponto de verificação, está experimentando uma versão muito mais gentil daquela filosofia de design original. Mas será que algo se perdeu nesse processo?
Alguns elementos do design roguelike ainda persistem na série, mesmo que de forma atenuada:
O sistema de estrelas de procurado, que aumenta progressivamente o desafio
A perda de armas e equipamentos quando preso ou hospitalizado
A sensação de que cada decisão no mundo aberto tem consequências
E aqui está um pensamento provocador: e se a Rockstar trouxesse de volta alguns desses elementos hardcore em um futuro jogo? Imagina um modo "roguelike" no próximo GTA, onde você começa do zero toda vez que morre, mas mantém algum conhecimento do mapa ou habilidades básicas - assim como em Rogue Legacy ou Returnal.
Lições que os desenvolvedores modernos poderiam aprender
Analisando friamente, o primeiro GTA era brutal em sua simplicidade. Sem saves manuais, sem checkpoints, sem piedade. Mas essa aparente crueldade escondia um design brilhante que mantinha os jogadores voltando para "só mais uma tentativa" - o mesmo apelo que faz os roguelikes modernos serem tão viciantes.
O que me faz pensar: será que parte do sucesso inicial da franquia veio justamente dessa abordagem implacável? Em uma era onde muitos jogos AAA parecem ter medo de desafiar demais os jogadores, há algo refrescante em revisitar essa filosofia de design que não faz concessões.
Não estou sugerindo que todos os jogos devam ser tão punitivos quanto o GTA original, claro. Mas talvez haja um equilíbrio a ser encontrado entre a acessibilidade dos títulos atuais e a sensação genuína de conquista que vinha de superar desafios tão implacáveis.
Com informações do: PC Gamer
