Três décadas de jogos com alma arcade

O estúdio finlandês Housemarque está celebrando 30 anos de existência - uma jornada que começou em 1995 com a fusão de dois estúdios menores (Bloodhouse e Terramarque). Desde seus primeiros jogos como Alien Incident e TransWorld Snowboarding, passando por títulos icônicos como Super Stardust HD e Dead Nation nos anos 2000, até os sucessos mais recentes como Resogun e o aclamado Returnal, a Housemarque sempre manteve uma identidade única.

Mas o que faz um estúdio que já declarou o fim dos jogos arcade continuar sendo reconhecido justamente por essa essência? "É o DNA do estúdio", explica Gregory Louden, diretor criativo, durante as comemorações do aniversário em Helsinki. "Nós jogamos como um jogo arcade e não abrimos mão disso."

A evolução sem perder a essência

Cena caótica de Nex Machina

Image credit: Housemarque

Nex Machina e Resogun: exemplos clássicos do estilo Housemarque

Com Returnal, a Housemarque adicionou um novo pilar à sua fórmula: a narrativa. E com o próximo jogo, Saros (previsto para PS5 no próximo ano), o estúdio promete trazer mais inovações. "Estamos construindo sobre uma base sólida", diz Louden. "A sensibilidade arcade, na minha opinião, sempre estará lá."

Cena intensa de Resogun

Image credit: Housemarque

Ilari Kuittinen, diretor do estúdio, acredita que foi justamente essa "alma arcade" que atraiu a Sony. "Somos uma parte única do portfólio [da PlayStation Studios], levando essas sensibilidades arcade para as massas", explica. "Acho que essa é nossa missão."

Os benefícios de fazer parte da PlayStation Studios

Selene, protagonista de Returnal

Image credit: Housemarque

A aquisição pela Sony em 2021 trouxe à Housemarque estabilidade financeira e recursos, mas também algo menos tangível: acesso a uma rede de outros estúdios para troca de conhecimentos. "A PlayStation tem apoiado nossa visão criativa", afirma Louden. "Com Returnal, eles acreditaram neste jogo selvagem."

E com Saros? "Eles disseram: 'continuem'", revela Louden, citando o entusiasmo de Herman Hulst, líder dos estúdios first-party da Sony: "Ele sempre diz: tragam mais balas!"

Olhando para o futuro

Cena impressionante de SarosProtagonista de Saros na praia

Image credit: Housemarque

Saros promete manter a identidade Housemarque com novos elementos

Para os próximos 30 anos, a ambição é simples: continuar criando "jogos incríveis" e manter o momentum. "Somos tão fortes quanto nosso último jogo", reflete Mikael Haveri, diretor de marca da Housemarque. Louden complementa: "É quase como uma responsabilidade... temos a sorte de estar nessa posição e devemos continuar inovando."

E enquanto os fãs aguardam por mais detalhes sobre Saros, uma coisa é certa: quando o jogo for lançado, não haverá dúvidas de que é um título Housemarque - com toda a intensidade e personalidade que isso implica.

Three of Housemarque's BAFTA awards in a glass case

Image credit: Housemarque

O legado arcade na era moderna

O que significa, afinal, manter a essência arcade em uma indústria que evoluiu tanto? Para a equipe da Housemarque, não se trata apenas de gráficos pixelados ou mecânicas simplistas, mas de uma filosofia de design. "É sobre feedback imediato, sobre desafio e recompensa", explica um dos designers veteranos do estúdio. "Mesmo em Returnal, com toda sua complexidade narrativa, você sente aquela adrenalina de um arcade clássico."

Curiosamente, essa abordagem tem encontrado ressonância com uma nova geração de jogadores. "Muitos jovens nunca colocaram uma ficha em um fliperama", observa Louden, "mas eles respondem àquela intensidade pura que tentamos capturar."

Os desafios de inovar dentro de uma tradição

Equilibrar inovação com tradição nunca foi fácil. Durante o desenvolvimento de Returnal, a equipe enfrentou dilemas criativos significativos. "Tivemos debates acalorados sobre até que ponto poderíamos afastar-nos da nossa fórmula", revela uma designer de gameplay. "No final, percebemos que poderíamos expandir nosso vocabulário sem trair nossa essência."

Essa tensão criativa parece estar no cerne do processo da Housemarque. Kuittinen descreve o ambiente de desenvolvimento como "um laboratório onde ideias antigas e novas colidem". Um exemplo? O sistema de progressão de Returnal, que combina a estrutura roguelike moderna com a filosofia "uma vida só" dos arcades clássicos.

A cultura do estúdio como diferencial

Conversando com vários membros da equipe, fica claro que a identidade da Housemarque vai além dos jogos. "Temos uma cultura de franqueza", diz um programador sênior. "Se alguém acha que uma mecânica não tem aquele 'feel' Housemarque, nós falamos." Essa transparência parece ser um antídoto contra a complacência - especialmente agora, com os recursos da PlayStation por trás deles.

Outro aspecto notável é como o estúdio lida com o fracasso. "Nós 'falhamos rápido'", brinca um designer, referindo-se à prática de testar ideias radicalmente diferentes sem medo de descartá-las. Essa mentalidade explica em parte como conseguiram reinventar-se tantas vezes ao longo de três décadas.

O que os fãs podem esperar de Saros?

Embora detalhes sobre Saros permaneçam escassos, algumas pistas emergem das entrelinhas. "Estamos explorando novas formas de contar histórias", menciona Louden, "mas sem sacrificar a jogabilidade intensa que nos define." Rumores sugerem que o jogo pode mergulhar em mitologias antigas, algo que representaria mais um passo ousado para o estúdio.

O que parece certo é que Saros não será um "Returnal 2". "Cada novo projeto é uma chance de nos desafiar", explica Kuittinen. "Se simplesmente replicássemos fórmulas passadas, estaríamos traindo não só nossos jogadores, mas nossa própria história."

Essa busca por evolução constante levanta uma questão interessante: até que ponto um estúdio pode se transformar sem perder sua identidade? Para a Housemarque, a resposta parece estar naquilo que não muda - o compromisso com experiências de jogo visceralmente satisfatórias, independentemente do gênero ou formato.

Com informações do: Eurogamer