O paradoxo de Red Dead Redemption 2: obra-prima que muitos não terminam
Considerado por muitos como uma das maiores realizações da indústria de jogos, Red Dead Redemption 2 é um tour de force da Rockstar Games. Com seu mundo aberto meticulosamente detalhado, narrativa cinematográfica e atenção obsessiva ao realismo, o jogo conquistou críticos e fãs. Mas há um fenômeno curioso: uma parcela significativa de jogadores nunca vê os créditos finais.
Fóruns e redes sociais estão repletos de relatos de pessoas que, por mais que admirassem o jogo, simplesmente desistiram antes do final. O que explica essa desconexão entre qualidade técnica e engajamento do jogador?
Quando o realismo se torna um obstáculo
A Rockstar levou a imersão a níveis sem precedentes. Cada ação de Arthur Morgan - desde abrir uma gaveta até escovar seu cavalo - é animada com cuidado quase artesanal. Enquanto alguns jogadores se maravilham com esses detalhes, outros acham o ritmo exasperantemente lento.
"Demora literalmente segundos para Arthur pegar um item do chão", reclama um usuário no Reddit. "Depois da centésima vez, isso deixa de ser imersivo e vira apenas irritante."
E o problema não para nas mecânicas. A narrativa também adota um passo deliberadamente vagaroso, especialmente nos primeiros capítulos. A sequência inicial nas montanhas nevadas, que pode durar horas, funciona como um teste de paciência para muitos.
O peso das expectativas
Muitos chegam ao jogo esperando "GTA no Velho Oeste", mas a experiência é radicalmente diferente. Enquanto a série Grand Theft Auto celebra o caos e o humor negro, Red Dead 2 abraça um tom mais contemplativo e melancólico.
"Fiquei frustrado porque não podia simplesmente sair atirando em todo mundo como no GTA", admite um jogador em um fórum. "Levei um tempo para entender que esse não era o ponto."
E há ainda a questão da mudança de protagonista. Sem entrar em spoilers, o destino de Arthur Morgan e a ascensão de John Marston como personagem principal dividiram a base de fãs. Alguns consideram essa transição narrativa uma das mais emocionantes da história dos jogos; outros, um motivo para desistir.
O dilema do mundo aberto
O vasto território do jogo é ao mesmo tempo seu maior trunfo e sua possível ruína. Com tantas atividades secundárias - caça, pesca, jogos de azar, interações com NPCs - é fácil se perder por dezenas de horas sem avançar na história principal.
Um estudo da Quantic Foundry sugere que jogadores que se dedicam excessivamente a conteúdo secundário antes de se envolverem com a narrativa principal têm maior probabilidade de abandonar o jogo. Em Red Dead 2, onde a história é tão central, esse fenômeno parece se intensificar.
E você? Já começou Red Dead Redemption 2 mas não conseguiu chegar até o final? O que te fez desistir - ou persistir?
A armadilha do perfeccionismo
O compromisso da Rockstar com a autenticidade histórica criou um jogo que é, em muitos aspectos, quase um simulador do Velho Oeste. Mas esse perfeccionismo tem um custo oculto. Sistemas complexos como a deterioração das armas, necessidades fisiológicas do personagem e até a sujeira acumulada nas roupas exigem manutenção constante.
"Adorei os primeiros 20 horas cuidando de cada detalhe do Arthur", conta um jogador no ResetEra. "Mas quando percebi que precisaria fazer isso por mais 80 horas, senti um cansaço que nem a história compensava."
O sistema de honra, embora brilhante em teoria, também pode frustrar. Ações aparentemente inocentes - como atropelar acidentalmente um pedestre durante uma corrida de cavalo - podem derrubar drasticamente sua moral, forçando o jogador a um minijogo constante de reparação de reputação.
O paradoxo da liberdade
Red Dead 2 oferece uma liberdade sem paralelos... desde que você siga as regras da Rockstar. Missões principais frequentemente impõem soluções únicas, punindo jogadores que tentam abordagens criativas. Um famoso exemplo é a missão de assalto ao banco em Valentine, onde desviar do roteiro pré-determinado resulta em falha automática.
"Queria resolver problemas do meu jeito, mas o jogo insistia que só havia um jeito certo", lamenta um streamer em seu canal na Twitch. "Depois de várias tentativas frustradas, perdi o interesse em progredir na campanha."
Essa rigidez contrasta fortemente com a aparente abertura do mundo, criando uma dissonância que alguns jogadores têm dificuldade em superar.
A questão do tempo
Em uma era onde o tempo de jogo médio por sessão está diminuindo, Red Dead 2 exige comprometimento. Salvar o progresso muitas vezes requer voltar ao acampamento ou encontrar um local específico. Missões principais frequentemente ultrapassam a marca de 45 minutos sem pontos de salvamento intermediários.
Dados da HowLongToBeat mostram que completar apenas a história principal leva em média 50 horas - quase o dobro da maioria dos AAA modernos. Para jogadores casuais, essa escala pode ser intimidadora.
"Tenho dois empregos e uma família", explica um pai em um fórum. "Depois de três semanas jogando, mal havia saído do Capítulo 2. Quando percebi que ainda faltavam meses para terminar, simplesmente desisti."
A barreira técnica
Não podemos ignorar os desafios puramente técnicos. Mesmo em hardware potente, o jogo sofre com longos tempos de carregamento e uma interface que muitos consideram sobrecarregada. O sistema de inventário, em particular, é frequentemente citado como excessivamente complexo para tarefas simples.
"Perdia mais tempo navegando em menus do que explorando o mundo", queixa-se um jogador PC no Steam. "Depois de várias atualizações que não resolveram esses problemas, decidi seguir para outros jogos."
E há ainda a questão do controle. A esquema de comandos contextuais frequentemente leva a ações indesejadas - como atacar um NPC quando a intenção era apenas cumprimentá-lo, resultando em perseguições indesejadas e prejuízos à honra.
Com informações do: Game Vicio