O dilema da Bethesda com seu motor gráfico proprietário
A Bethesda investiu mais de uma década desenvolvendo seu Creation Engine, que alimenta todos os seus jogos desde Skyrim. Mas com os lançamentos recentes de Starfield e do remake de The Elder Scrolls IV: Oblivion, alguns fãs começaram a questionar se a empresa deveria abandonar seu motor gráfico próprio. Em entrevista, o ex-líder de estúdio Dan Nanni alertou que essa mudança traria custos significativos tanto para a comunidade quanto para a equipe de desenvolvimento.
Enquanto a indústria de jogos converge para poucos motores padrão - com o Unreal Engine 5 liderando - estúdios como a Bethesda que mantêm seus próprios motores se tornaram raros. Mas será que essa independência tecnológica ainda faz sentido?
Por que a comunidade de mods é crucial para a Bethesda
Nanni explicou ao VideoGamer que a Bethesda tem boas razões para continuar com o Creation Engine. A principal delas? A vibrante comunidade de modders que se formou em torno dessa tecnologia.
"Você tem uma comunidade de mods que sabe usar seu motor, que construiu coisas por décadas no sistema que você está lançando", afirmou Nanni. "Você precisa se perguntar: vale a pena perder todo esse conhecimento? O que você ganha com isso? E não há resposta certa... Você só precisa fazer uma escolha."
A migração para o UE5 certamente beneficiaria alguns modders experientes em criar conteúdo para outros jogos. Mas o ecossistema de mods da Bethesda como um todo sofreria um grande impacto. E considerando que os mods são parte fundamental da longevidade dos jogos da empresa, essa não é uma decisão que pode ser tomada levianamente.
Afinal, quem nunca baixou pelo menos um mod para Skyrim ou Fallout? Essas modificações feitas por fãs não apenas corrigem bugs (muitas vezes antes mesmo da própria Bethesda), mas também expandem radicalmente o conteúdo e a vida útil dos jogos.
Os desafios técnicos e culturais de uma possível transição
Mudar para o Unreal Engine não seria apenas uma questão de trocar ferramentas. O Creation Engine tem particularidades que moldaram não só os jogos da Bethesda, mas também a forma como os fãs interagem com eles. "É como aprender um novo idioma depois de passar a vida inteira falando outro", comparou um modder que prefere não se identificar. "Mesmo que o Unreal seja mais poderoso, levaríamos anos para recriar as ferramentas e tutoriais que temos hoje."
Alguns exemplos concretos ilustram esse desafio:
O Creation Kit, suite oficial de modding da Bethesda, foi sendo aprimorado junto com a comunidade
Muitos mods populares dependem de scripts específicos do Creation Engine que não teriam equivalentes diretos no UE5
Projetos ambiciosos como Enderal (um jogo completo feito dentro do Skyrim) talvez nunca existissem em outro motor
O outro lado da moeda: quando a inovação tecnológica é necessária
Por outro lado, até os defensores do Creation Engine admitem que a tecnologia da Bethesda está ficando para trás em alguns aspectos. O diretor de arte de Starfield, Istvan Pely, já mencionou em entrevistas os desafios técnicos de implementar recursos modernos como iluminação global e física avançada em um motor tão antigo.
"Há um ponto em que a compatibilidade com mods se torna uma desculpa para não inovar", argumenta o desenvolvedor independente Carlos Mendes, que trabalhou com vários motores gráficos. "Se você olhar para jogos como Hellblade 2 ou Stellar Blade, fica claro que o UE5 está abrindo possibilidades que o Creation Engine simplesmente não consegue acompanhar."
A Bethesda se encontra assim numa encruzilhada tecnológica. Continuar com seu motor próprio significa manter uma relação simbiótica com sua comunidade de modders, mas potencialmente limitar suas ambições criativas. Já a adoção do Unreal Engine poderia trazer gráficos de última geração, mas ao custo de alienar parte de sua base de fãs mais dedicada.
E enquanto a discussão continua, uma pergunta persiste: será que existe um meio-termo possível? Alguns na comunidade sugerem que a Bethesda poderia manter o Creation Engine para suas franquias estabelecidas (como The Elder Scrolls e Fallout) enquanto adota o UE5 para novas IPs. Outros propõem que a empresa deveria desenvolver uma versão radicalmente atualizada de seu motor, incorporando lições aprendidas com a Epic Games.
Com informações do: Game Spot