Uma joia escondida do mundo dos jogos de luta
Imagine um jogo de luta que combina o estilo e a emoção dos clássicos da placa CPS2 da Capcom, a essência arcade dos melhores expoentes da era dourada da Neo Geo e a temática dos filmes de artes marciais de Hong Kong. Parece bom demais para ser verdade? Martial Masters é tudo isso e mais um pouco. E apesar de não ter feito muito barulho há mais de 20 anos, sua proposta continua igualmente impactante.
Martial Masters é uma pérola escondida no gênero de luta 2D. Seu visual parece usar as placas da Capcom ou SNK, mas roda na muito menos conhecida PolyGame Master de seus criadores, a International Game System (IGS). Se você nunca ouviu falar deles, é normal: trata-se de uma desenvolvedora de Taiwan que, apesar de não jogar na mesma liga que os titanes de Osaka, ousou enfrentar sagas como Street Fighter, Fatal Fury ou Samurai Shodown mesmo durante o declínio da era dourada dos arcades.
O que torna Martial Masters especial?
Os trunfos de Martial Masters estão sempre à vista: a animação dos personagens, cheios de personalidade, é fluida e se você tem alguma experiência com jogos de luta, vai entender como tudo funciona de primeira. Mas se você é do tipo que só aperta botões aleatoriamente, não se preocupe: ao contrário de Street Fighter III ou dos The King of Fighters contemporâneos ao seu lançamento, você não demorará muito para extrair o melhor de suas mecânicas e personagens.
Esteticamente, é um jogo de luta que se inspira bastante nos últimos Street Fighter do milênio. Tanto na estética dos personagens quanto na composição dos menus e disposição das barras de saúde e poder, não chega a ser uma cópia de SF3: Third Strike, mas quase. E embora não alcance aquele grau de excelência atemporal do jogo da Capcom, os elementos que lhe dão personalidade própria - especialmente a inspiração nos filmes e tópicos do cinema de artes marciais - enriquecem bastante a experiência.

Uma história de artes marciais
A narrativa de Martial Masters nos coloca no final da dinastia Qing, no início do século XX, quando a China enfrentava uma revolução e crise de identidade devido à corrupção e à influência estrangeira. Diante de um estado à beira do colapso e uma ameaça maior nas sombras, dois mestres de artes marciais decidem intervir: Dragon e Master Huang. Não com diplomacia, mas através da força.
O jogo apresenta 12 lutadores, a maioria especializados em diferentes estilos de kung-fu. É possível reconhecer a influência do estilo do macaco, da garça, do bêbado ou do tigre apenas olhando para os personagens ou lendo seus nomes. Master Huang, por exemplo, é herdeiro do estilo Hongjiaquan. E você consegue adivinhar as técnicas de Tiger ou do Drunk Master?
Embora não seja tão técnico quanto Virtua Fighter, os ataques especiais e superespeciais seguem a linha dos clássicos da Capcom e SNK, com mecânicas próprias como os Pressure Moves, Roll Recovery e Shadow Attacks que permitem combos aéreos ou múltiplos golpes em solo, adicionando emoção e variedade a cada rodada.
Durante anos, Martial Masters foi aquele jogo de luta que todos que jogaram recomendam, mas que quase ninguém conhece ou sabe onde encontrar. Não é o melhor expoente de sua época, nem pode ser considerado um clássico cult - e o fato de ter ficado restrito a arcades por mais de 20 anos certamente não ajudou. Mas como diz o ditado, não há mal que sempre dure.
A International Game System incluiu Martial Masters, junto com seus próprios "tributos" a Dynasty Wars e Metal Slug, na coleção IGS Classic Arcade Collection, disponível desde 2023 no Nintendo Switch e em breve no Steam. Uma nova chance para brilhar? Talvez. Mas certamente uma excelente oportunidade para finalmente descobrir essa joia esquecida.
O legado da IGS e o renascimento dos arcades esquecidos
A International Game System (IGS) sempre foi uma desenvolvedora peculiar. Enquanto a Capcom e a SNK dominavam o mercado ocidental de arcades, a IGS focava no mercado asiático com jogos que muitas vezes eram claras homenagens - alguns diriam clones - das grandes franquias. Mas Martial Masters mostra que havia mais do que simples imitação: havia paixão genuína pelo gênero e uma tentativa legítima de contribuir para ele.
O sistema de combate de Martial Masters merece atenção especial. Ele introduziu mecânicas que, na época, eram bastante inovadoras:
Pressure Moves: Golpes que permitiam pressionar o oponente contra a parede, criando oportunidades para combos devastadores
Shadow Attacks: Uma espécie de ataque fantasma que podia ser usado como extensão de combos aéreos
Roll Recovery: Sistema de recuperação que adicionava camadas estratégicas à defesa
Curiosamente, enquanto a Capcom experimentava com parry systems em Street Fighter III, a IGS optou por um caminho diferente, mantendo a acessibilidade sem sacrificar a profundidade técnica. Essa abordagem faz de Martial Masters um jogo peculiarmente equilibrado - desafiador o suficiente para veteranos, mas acolhedor para novatos.
O desafio de preservar jogos arcade obscuros
Parte do mistério em torno de Martial Masters vem da dificuldade em preservar jogos de desenvolvedoras menores como a IGS. Enquanto títulos da Capcom e SNK recebiam ports para consoles caseiros, muitos jogos da IGS ficaram presos em placas arcade obscuras. Até recentemente, a única maneira de jogar Martial Masters era:
Encontrar uma máquina arcade física (extremamente rara fora da Ásia)
Recorrer a emulação, muitas vezes com problemas de compatibilidade
Esperar por algum relançamento oficial
A situação começou a mudar quando a própria IGS percebeu o valor de seu catálogo. A IGS Classic Arcade Collection não é apenas uma compilação - é um ato de preservação histórica. E considerando que muitos dos jogos da empresa nunca foram lançados oficialmente no Ocidente, essa iniciativa ganha ainda mais importância.
Comparando com os clássicos contemporâneos
Colocar Martial Masters lado a lado com seus contemporâneos mais famosos revela diferenças interessantes. Enquanto Street Fighter III: 3rd Strike (1999) apostava em um visual mais limpo e animação frame-by-frame impecável, Martial Masters (2001) optou por um estilo mais "sujo", com personagens mais expressivos e cenários cheios de detalhes. Não é necessariamente melhor ou pior - apenas diferente.
O jogo também se destaca pela trilha sonora, que mistura elementos tradicionais chineses com batidas eletrônicas típicas dos arcades da época. Cada personagem tem seu próprio tema musical, algo raro em jogos de desenvolvedoras menores. E os efeitos sonoros dos golpes - especialmente os Pressure Moves - têm um peso satisfatório que rivaliza com os melhores jogos da SNK.
O que talvez mais impressione em Martial Masters é como ele consegue capturar a essência dos filmes de artes marciais de Hong Kong. Desde as poses dramáticas dos personagens até as referências visuais a estilos de luta específicos, tudo no jogo respira esse universo. É uma homenagem amorosa que vai além da superficialidade - você quase consegue sentir a influência de diretores como King Hu ou Chang Cheh em cada frame animado.
Com informações do: VidaExtra