O retorno de Charlie Guillemot à Ubisoft

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A família Guillemot continua a exercer forte influência sobre a Ubisoft, com Yves Guillemot como CEO e principal acionista. Agora, essa influência se expande ainda mais com o retorno de Charlie Guillemot, filho de Yves, que assumirá um papel estratégico na empresa.

Segundo informações do jornalista Tom Henderson, Charlie deixou a Ubisoft em 2021 para explorar outros projetos, incluindo jogos com tecnologia blockchain. Seu retorno agora marca uma nova fase, onde ele liderará o recém-criado "Comitê de Transformação" - um grupo de 10 executivos responsáveis por guiar a evolução da empresa.

Quem compõe o Comitê de Transformação?

O comitê inclui nomes importantes da liderança atual da Ubisoft:

  • Alain Corre

  • Cécile Russeil

  • Charlie Guillemot

  • Christophe Derennes

  • Jean Guesdon

  • Marie-Sophie de Waubert

  • Michaël Montaner

  • Nicolas Rioux

  • Sébastien Froidefond

  • Stéphanie Perotti

Controvérsias sobre a nomeação

O retorno de Charlie não está sendo bem recebido por todos. De acordo com Henderson, há críticas internas sobre sua qualificação para liderar essa transformação. Muitos funcionários questionam se ele tem experiência suficiente para o cargo, especialmente considerando seu tempo afastado da empresa.

Além disso, há insatisfação com outros membros do comitê, que são vistos por alguns como responsáveis pela situação atual da Ubisoft. A empresa enfrentou diversos desafios nos últimos anos, incluindo atrasos em lançamentos e críticas à sua cultura corporativa.

O desafio da transformação na Ubisoft

A criação do Comitê de Transformação ocorre em um momento crítico para a Ubisoft. A empresa, conhecida por franquias como Assassin's Creed e Far Cry, vem enfrentando pressão de investidores e da comunidade gamer por inovação. Analistas apontam que a indústria de jogos está em um ponto de virada, com novas tecnologias como IA generativa e cloud gaming redefinindo o mercado.

Charlie Guillemot terá que lidar com desafios complexos:

  • Renovação de IPs: Muitas franquias da Ubisoft são criticadas por se tornarem "fórmulas repetitivas"

  • Cultura corporativa: Denúncias de assédio e condições de trabalho ruins persistem desde 2020

  • Pressão financeira: O cancelamento de 7 jogos não anunciados em 2022 mostrou a necessidade de ajustes

O legado da família Guillemot

A presença de Charlie no comitê reacende o debate sobre o controle familiar na Ubisoft. A família Guillemot fundou a empresa em 1986 e detém cerca de 15% das ações, mas com 20% dos direitos de voto graças à estrutura de ações com duplo direito de voto.

Especialistas em governança corporativa questionam se essa estrutura é benéfica para a inovação. "Quando uma empresa é muito controlada por uma família, há risco de decisões baseadas em lealdade em vez de mérito", comenta Thierry Bolloré, analista do setor de jogos.

O experimento com blockchain e seu impacto

Durante seu afastamento, Charlie co-fundou a startup Mythical Games, focada em jogos com economia baseada em blockchain. Esse conhecimento pode ser valioso agora que a Ubisoft explora tecnologias Web3, mas também gera desconfiança.

"Muitos desenvolvedores temem que a obsessão por NFTs e blockchain distraia a empresa do que realmente importa: criar bons jogos", revela um funcionário anônimo em fóruns do Reddit.

A própria Ubisoft já teve reveses nessa área, como o fracasso do Quartz, plataforma de NFTs que foi descontinuada silenciosamente após baixa adesão.

Comparação com outras lideranças familiares

O caso da Ubisoft não é único na indústria. A Nintendo passou por transição semelhante quando Shuntaro Furukawa substituiu Tatsumi Kimishima em 2018, mantendo o controle da família Yamauchi. No entanto, especialistas destacam diferenças cruciais:

  • A Nintendo tinha um plano de sucessão claro e gradual

  • Furukawa tinha décadas de experiência na empresa antes de assumir

  • A transição ocorreu após um período de forte desempenho financeiro

Esses contrastes levantam questões sobre se a Ubisoft está seguindo um caminho semelhante ou se a nomeação de Charlie representa mais um caso de nepotismo no setor de games.