Elden Ring Nightreign: uma abordagem radicalmente diferente

Vamos começar com uma confissão: Elden Ring, em sua essência, não é um jogo tão difícil quanto muitos pregam. Desde que você adote uma abordagem paciente e metódica, o jogo recompensa sua persistência e oferece múltiplas formas de personalizar sua experiência. Mas o mesmo não pode ser dito sobre Elden Ring Nightreign - e é exatamente isso que torna a experiência tão frustrante para muitos fãs da FromSoftware.

Cena de multiplayer em Elden Ring Nightreign

Image: FromSoftware/Bandai Namco

O espírito cooperativo perdido

Hidetaka Miyazaki, diretor dos jogos principais da FromSoftware, sempre defendeu uma filosofia de design que incentiva a cooperação entre jogadores. Em uma entrevista de 2010 à Eurogamer, ele contou como uma experiência pessoal inspirou essa abordagem:

"A origem dessa ideia vem de uma experiência pessoal onde um carro parou em uma ladeira após uma forte nevasca e começou a derrapar", disse Miyazaki. "O carro atrás do meu também ficou preso, e então o seguinte bateu nele espontaneamente e começou a empurrá-lo morro acima... Foi assim que todos conseguiram chegar em casa!"

Essa filosofia de "assistência mútua entre pessoas transitórias" permeia todos os jogos Souls. Mas em Nightreign, dirigido por Junya Ishizaki, essa essência parece ter se perdido completamente.

Os três grandes problemas de Nightreign

O jogo apresenta três falhas fundamentais que o distanciam da experiência Elden Ring tradicional:

  • Comunicação limitada: O único sistema de comunicação disponível são marcadores no mapa - insuficiente para um jogo que exige coordenação constante entre três jogadores.

  • O círculo de fogo: Um mecanismo herdado de battle royales que força os jogadores a correr constantemente, eliminando qualquer possibilidade de exploração metódica.

  • Aleatoriedade excessiva: Chefes e itens são completamente aleatórios, tornando impossível planejar estratégias ou aprender padrões de ataque.

Uma experiência estressante, não desafiadora

Enquanto os jogos Souls tradicionais recompensam paciência e aprendizado, Nightreign parece projetado para criar estresse constante. Você precisa:

  • Tomar decisões sobre loot em segundos

  • Correr incessantemente do círculo de fogo

  • Gritar mentalmente para seus companheiros se apressarem

  • Lidar com chefes completamente aleatórios sem preparação

E o pior? Quando sua equipe morre, você volta ao início - mas com novos desafios completamente diferentes. Não há aprendizado progressivo, apenas frustração acumulada.

Cena de combate em Elden Ring Nightreign

Image: FromSoftware/Bandai Namco

Jogos como Diablo ou Hades, que também possuem elementos aleatórios, entendem a importância do tempo para análise e decisão. Nightreign, porém, parece determinado a privar os jogadores exatamente desse aspecto mais satisfatório.

O design que contradiz a filosofia Souls

O que mais choca em Nightreign é como ele parece ignorar décadas de aprendizado acumulado pela FromSoftware. Os jogos Souls nunca foram apenas sobre dificuldade - eram sobre justiça. Cada morte ensinava algo, cada derrota era uma lição. Mas como aprender quando tudo muda a cada tentativa?

Lembro da primeira vez que enfrentei Ornstein e Smough em Dark Souls. Foram 47 tentativas. Mas na tentativa 48, eu sabia exatamente quando rolar, quando atacar, quando recuar. Nightreign rouba essa satisfação progressiva, substituindo-a por um caos que mais parece um jogo de azar do que um teste de habilidade.

O paradoxo da cooperação forçada

O sistema de trio obrigatório cria situações absurdas. Imagine: você finalmente domina um padrão de ataque de um chefe, mas um dos seus companheiros desconhecidos insiste em estratégias contraditórias. Em Elden Ring tradicional, você poderia se adaptar ou tentar sozinho. Aqui? Você está refém do grupo.

E pior - sem comunicação vocal ou textual eficiente, como coordenar estratégias complexas? Os emotes limitados se tornam uma pantomima frustrante quando você precisa comunicar algo como "vamos focar no arqueiro primeiro enquanto eu distraio o tanque".

O que poderia ter sido

É especialmente decepcionante porque a premissa tinha tanto potencial. Um modo cooperativo aprofundado para Elden Ring era o sonho de muitos fãs. Mas em vez de expandir o que funcionava, Nightreign parece ter copiado mecânicas de gêneros completamente diferentes sem adaptá-las à essência Souls.

Imagine se, em vez do círculo de fogo, tivéssemos:

  • Dungeons cooperativas projetadas para exploração metódica

  • Chefes com mecânicas que exigem sincronia entre três jogadores

  • Sistemas de comunicação ricos, como códigos de gestos combináveis

  • Progressão compartilhada que permitisse aprender juntos

Em vez disso, temos um híbrido desajeitado que não satisfaz nem os fãs de Souls, nem os entusiastas de battle royale. Até a construção de personagem, tradicionalmente tão rica nos jogos da FromSoftware, foi simplificada a pontos de atributo genéricos que pouco afetam a jogabilidade real.

Quando a inovação vira contradição

Inovar é arriscado, e devemos aplaudir a coragem de tentar algo novo. Mas quando uma franquia estabelece certas expectativas, desviar radicalmente delas sem aviso gera mais frustração do que admiração. Não é que Nightreign seja um jogo ruim - é que ele não entrega o que promete no nome.

Talvez o maior pecado seja o timing. Lançado apenas dois anos após o estrondoso sucesso de Elden Ring, Nightreign parece uma tentativa apressada de capitalizar no hype, em vez de uma experiência cuidadosamente elaborada. Os fãs esperavam uma expansão do universo que amaram, não uma reinvenção radical das regras básicas.

E o que dizer da narrativa? Enquanto Elden Ring nos presenteava com lore rico e personagens memoráveis, Nightreign reduz tudo a textos descritivos genéricos. Onde estão as histórias ambíguas e profundas? Os diálogos enigmáticos que geravam horas de teorias entre os fãs? Substituídos por objetivos de missão do tipo "derrote três chefes para avançar".

Com informações do: Polygon