Uma estratégia em constante evolução

Quando WarnerMedia e Discovery Inc. se fundiram em 2022, a justificativa era que a combinação colocaria as empresas em melhor posição para competir contra Netflix, Disney e outras que mergulhavam de cabeça no streaming. O CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslav, frequentemente se referia a isso como uma "disrupção geracional" na indústria do entretenimento.

Na época, a mensagem era "melhores juntos". Na segunda-feira, tornou-se "melhores separados".

"Enquanto ambas as organizações contemplavam seus futuros, uma verdade ficou clara: para adaptar, transformar e liderar com sucesso a indústria do entretenimento de amanhã, precisávamos nos unir - aproveitando os pontos fortes um do outro", disse Zaslav em um memorando à equipe. "Embora o trabalho desde essa fusão tenha sido desafiador às vezes, no final, conseguimos fortalecer cada elemento do nosso negócio."

Agora, na mais recente mudança de estratégia, Zaslav e sua equipe tomaram o que ele chamou de "escolha ousada" de separar seu negócio de "Redes Lineares Globais" de seu negócio de "Streaming e Estúdios" até meados de 2026.

Nielsen Gauge Abril 2025

Source: Nielsen

Desafios fundamentais persistem

Apesar da reorganização, a WBD continua enfrentando desafios estruturais significativos:

  • Declínio contínuo dos negócios de redes lineares (lucros caíram 15% no primeiro trimestre)

  • Batalha difícil por participação no mercado de streaming (apenas 1,5% em abril segundo Nielsen)

  • Dívida bruta de aproximadamente US$ 37 bilhões

  • Perda dos direitos da NBA nos EUA

  • Rebranding do streamer Max de volta para HBO Max

Analistas apontam que a divisão pode criar "atrito operacional", especialmente em relação aos pacotes que incluíam conteúdo de redes lineares e streaming. Além disso, a distribuição da dívida entre as novas entidades permanece uma questão complexa.

Barclays analyst Kanaan Venkateshwar destacou que nenhuma das entidades separadas será capaz de absorver a dívida sem um aumento significativo de alavancagem, o que pode encontrar resistência dos detentores de títulos.

Possibilidades de fusões e aquisições

Enquanto muitas questões permanecem sem resposta, alguns no Wall Street veem potencial para consolidação na indústria:

Geetha Ranganathn, da Bloomberg Intelligence, acredita que a divisão pode "pavimentar o caminho para fusões e aquisições, especialmente na divisão de redes de TV", que representou 85% do EBITDA da WBD em 2024.

David Joyce, da Seaport Research, argumenta que múltiplos movimentos estruturais na indústria estão preparando o terreno para uma "racionalização de vários anos" e melhor eficiência e avaliação do setor.

"Há miríades de possibilidades de consolidação da indústria a partir daqui - as incertezas regulatórias sendo um ponto de interrogação significativo, é claro", escreveu Joyce em nota aos clientes.

Impacto nos criadores de conteúdo e consumidores

A reestruturação da Warner Bros. Discovery levanta questões sobre como afetará os relacionamentos com criadores e o ecossistema de conteúdo. Produtores independentes que trabalham com as redes lineares expressaram preocupação sobre como a divisão pode alterar os acordos existentes.

"Há uma ansiedade palpável na comunidade criativa", disse Maria Fernandez, produtora executiva com contratos tanto para programação linear quanto para Max. "Quando você divide operações que antes eram integradas, inevitavelmente cria redundâncias e conflitos de prioridades."

Do lado do consumidor, especialistas em experiência do usuário alertam para possíveis confusões:

  • Pacotes combinados de TV a cabo e streaming podem se tornar mais complexos

  • Mudanças na disponibilidade de conteúdo entre plataformas

  • Possível aumento de preços para manter acesso a todos os serviços

O cenário competitivo em transformação

Enquanto a WBD se reorganiza, seus principais concorrentes não estão parados. A Disney recentemente adquiriu a Hulu por completo e está integrando seu catálogo ao Disney+. A Netflix continua dominando com investimentos agressivos em conteúdo internacional.

"O mercado está se movendo na direção oposta - consolidação em vez de fragmentação", observa o analista de mídia Robert Thompson. "A WBD está basicamente dizendo 'vamos tentar uma abordagem diferente', o que é arriscado, mas pode ser necessário dado seu conjunto único de desafios."

Dados recentes mostram que:

  • A Netflix mantém 35% de participação no mercado de streaming nos EUA

  • O Disney+ cresceu 12% na base de assinantes no último trimestre

  • Serviços emergentes como o Prime Video estão ganhando terreno com esportes ao vivo

O fator Zaslav

David Zaslav, que liderou a fusão original, agora está no centro desta nova estratégia de divisão. Seu histórico de cortes de custos agressivos e decisões controversas (como a remoção de conteúdo do Max para economizar em royalties) continua a definir sua abordagem.

"Zaslav está jogando xadrez enquanto muitos estão jogando damas", disse um executivo anônimo da indústria. "Mas o tabuleiro está mudando tão rápido que mesmo os melhores jogadores podem se perder."

Fontes internas sugerem que a liderança está considerando:

  • Novas parcerias estratégicas para a divisão de streaming

  • Venda de ativos não essenciais das redes lineares

  • Investimentos em tecnologia de anúncios para competir melhor no AVOD

Com informações do: The Wrap