Universal homenageia Spielberg com teatro que leva seu nome

Enquanto cinéfilos celebram o 50º aniversário de "Tubarão" neste verão, a Universal prestou homenagem ao icônico diretor Steven Spielberg, inaugurando um novo teatro no seu backlot que leva seu nome.

A cerimônia foi presidida por Donna Langley, presidente da NBCUniversal, e contou com a presença de celebridades como Seth Rogen, John Travolta, Dakota Fanning, Ke Huy Quan e Ben Mankiewicz.

"É uma honra ter Steven como patrono deste teatro. Nosso sonho é que ele não apenas represente seu extraordinário legado, mas também seja um local para as esperanças e sonhos dos cineastas que levarão esta empresa aos próximos 100 anos", declarou Langley.

Os primeiros passos de Spielberg na Universal

A carreira de Spielberg está profundamente ligada à Universal desde sua adolescência. Durante a cerimônia, o cineasta relembrou como costumava fugir dos ônibus de turismo pelo estúdio e se esconder no banheiro até que partissem. Ele então vagava pelos famosos sets de filmagem com uma mistura de admiração e medo de ser pego.

"Nunca fui acusado de invasão, mas foi exatamente o que fiz durante três meses naquele verão", contou ele ao TheWrap. "Meu maior medo era ser expulso por um segurança ou, pior ainda, ser preso por invasão."

Não apenas Spielberg nunca foi pego, como o estúdio se tornou seu primeiro lar em Hollywood quando o então presidente Sidney Sheinberg lhe ofereceu seu primeiro contrato. Através desse acordo, a divisão de TV da Universal lançou sua estreia na direção, o thriller "Duel" (1971).

De 'Tubarão' à terapia no barco Orca

Três anos depois de "Duel", Spielberg lançou sua estreia nos cinemas com "Louca Escapada" (1974) antes de alcançar o estrelato com "Tubarão" em 1975. Considerado o primeiro blockbuster moderno, o filme transformou não apenas a carreira de Spielberg, mas também o cinema como um todo.

Mas o sucesso veio com um custo emocional. O estresse de dirigir um filme tão complexo, com efeitos especiais, cenas perigosas e uma batalha final no mar deixou marcas profundas no cineasta.

"Eu acordava suando às três da manhã dez anos depois porque achava que ainda estava fazendo o filme", revelou Spielberg.

Em 1984, ele encontrou uma forma incomum de lidar com esses traumas: voltando ao barco Orca, usado nas filmagens, que a Universal mantinha no lago Falls do estúdio. Entre os passeios de trem dos turistas, Spielberg se esgueirava até o barco para confrontar silenciosamente as memórias difíceis da produção.

"Eu sentava no canto onde Quint faz seu discurso sobre o Indianapolis, e simplesmente lidava com o que não conseguia resolver em casa ou no escritório. Aquele ambiente foi minha terapia", confessou.

O legado contínuo de 'Tubarão'

O filme será tema de uma grande exposição no Museu da Academia em Los Angeles neste outono, apresentando artefatos nunca antes vistos, incluindo storyboards, adereços, partituras, páginas de roteiro e figurinos de todas as cenas - a maior exposição já dedicada a um único filme pelo museu.

Enquanto isso, Spielberg prepara seu próximo projeto: um filme de ficção científica ainda sem título, estrelado por Emily Blunt, com lançamento previsto para junho de 2026.

O impacto duradouro de Spielberg na indústria cinematográfica

Mais do que qualquer outro diretor de sua geração, Spielberg ajudou a moldar o cinema moderno. Seus filmes não apenas definiram o conceito de blockbuster, mas também demonstraram como histórias pessoais e emocionais poderiam coexistir com espetáculos visuais. "ET - O Extraterrestre" (1982), "A Lista de Schindler" (1993) e "O Resgate do Soldado Ryan" (1998) mostram a amplitude de sua capacidade de contar histórias.

O que muitos não sabem é que Spielberg quase recusou "Tubarão". Ele inicialmente hesitou em assumir o projeto, preocupado em ser rotulado como um diretor de filmes B. Mas foi justamente essa abordagem tensa e psicológica que elevou o filme acima dos típicos thrillers de monstros.

Os bastidores caóticos de 'Tubarão'

As filmagens em Martha's Vineyard foram marcadas por problemas técnicos que se tornaram lendários. O tubarão mecânico, apelidado de "Bruce" pela equipe, frequentemente falhava. "Ele afundava, vazava, não funcionava na água salgada", lembra Spielberg. "Tivemos que improvisar muito, o que acabou tornando o filme mais assustador."

Essas limitações forçaram o diretor a sugerir a presença do tubarão em vez de mostrá-lo constantemente - uma técnica que se provou muito mais eficaz. O tema icônico de John Williams, com aquelas duas notas simples, também surgiu dessa necessidade de criar tensão sem depender de efeitos visuais.

O teatro como símbolo de uma relação única

O novo Teatro Steven Spielberg na Universal não é apenas um tributo, mas um símbolo da relação simbiótica entre o cineasta e o estúdio. Com capacidade para 1.000 pessoas, o espaço foi projetado para exibições especiais e eventos da indústria, mantendo viva a tradição do cinema como experiência coletiva.

"Quando entrei na Universal pela primeira vez, escondido num banheiro, nunca imaginei que um dia teria meu nome em um desses edifícios", refletiu Spielberg durante a cerimônia. "Mas mais do que meu nome, espero que este teatro carregue o espírito de todos os cineastas que, como eu, começaram com um sonho e um rolo de filme roubado."

Os próximos projetos e o futuro do cinema

Enquanto prepara seu novo filme de ficção científica, Spielberg continua sendo uma voz ativa nos debates sobre o futuro da indústria. Recentemente, ele expressou preocupações sobre o impacto do streaming na experiência cinematográfica tradicional, mas também reconheceu o potencial das novas tecnologias.

"O cinema está em constante evolução, mas o poder de uma boa história permanece", observou. "Seja em uma tela gigante ou no telefone, o que importa é fazer o público sentir algo."

Curiosamente, o diretor revelou que ainda visita ocasionalmente o antigo barco Orca, agora preservado no Universal Studios Florida. "As memórias nunca desaparecem completamente", admitiu. "Mas hoje, quando sento naquele barco, lembro não apenas do estresse, mas da alegria de criar algo que resistiu ao tempo."

Com informações do: The Wrap