O adeus emocionante de Tony Todd em Final Destination: Bloodlines
Os fãs da franquia Final Destination sabem que não há muita continuidade entre os filmes, exceto pelo conceito básico: alguém tem uma premonição de um desastre iminente e usa isso para salvar vidas, mas a morte encontra maneiras criativas de reivindicá-las de qualquer forma. Diferente de outras franquias de terror, não há personagens recorrentes para acompanhar ou uma linha do tempo elaborada. E isso porque a piada mais sombria desses filmes é que nenhum dos personagens consegue enganar a morte por muito tempo.
Mas há uma constante na série: Tony Todd, o icônico ator de Candyman, interpretando o agente funerário William Bludworth, a figura sábia que explica as regras da morte para os protagonistas condenados. Bludworth aparece em três dos cinco filmes originais, com algumas participações em voz em um quarto filme. E ele está de volta em Final Destination: Bloodlines, um dos últimos filmes que Todd gravou antes de sua morte em 2024 — desta vez com uma mensagem emocionante que os diretores Zach Lipovsky e Adam B. Stein afirmam ter sido direcionada diretamente aos fãs.

Um legado que merecia um fechamento
Lipovsky conta que trazer Todd de volta para a franquia foi uma decisão fácil, especialmente porque o ator estava tão animado para reprisar o papel quanto os diretores estavam para tê-lo de volta. "Ele realmente queria estar neste filme", disse Lipovsky em uma entrevista. "Ele estava doente durante o desenvolvimento do filme, e estávamos preocupados que ele não estivesse bem o suficiente para as filmagens, mas ele insistiu. Queríamos criar uma narrativa em torno dele, dar-lhe uma espécie de história de origem e torná-lo um personagem mais completo."
Bludworth sempre foi uma figura misteriosa nos filmes, um mentor que nunca teve seu devido desenvolvimento. "Sabendo que este provavelmente seria seu último Final Destination, queríamos que ele tivesse um final digno, uma chance de se despedir do personagem e do público", explicou Lipovsky.

Uma mensagem direta do coração
Todd não tem um papel extenso em Bloodlines — ele aparece em uma cena significativa, onde mais uma vez encontra um novo grupo de protagonistas confrontados pela morte. Mas Stein revela que os diretores pediram a Todd que moldasse essa cena como uma oportunidade para explicar o legado de Bludworth e da própria franquia.
"Perguntamos se ele estaria confortável em deixar o roteiro de lado e falar diretamente do coração para os fãs, sobre o que a vida realmente significa", disse Stein. "A tomada que está no filme é realmente ele falando de forma sincera, sobre o que ele acha que é a vida e a morte. É por isso que é tão emocionante — porque é genuíno."
Dada a tendência dos filmes de Final Destination de eliminar todos os personagens (o mais duradouro sobreviveu apenas dois filmes), muitos esperavam uma cena pós-créditos onde a morte finalmente alcançaria Bludworth. Mas Bloodlines não tem cena pós-créditos, nem um desfecho definitivo para o personagem. Os diretores admitem que consideraram a ideia, mas decidiram que a despedida de Bludworth, assobiando enquanto caminha para o horizonte, era a maneira certa de homenagear Tony Todd.
"No final, queríamos que ele não fosse uma vítima, mas que tivesse poder sobre como enfrentava a morte", explicou Stein. "E isso pesou na decisão — em vez de criar uma sequência de morte para seu personagem, preferimos dar a ele a chance de se despedir em seus próprios termos."
O simbolismo por trás do assobio final
O assobio de Bludworth ao caminhar para o horizonte não foi uma escolha aleatória. Lipovsky revela que a equipe buscou inspiração em westerns clássicos, onde o herói muitas vezes parte sem um destino claro, mas com dignidade. "Há algo profundamente simbólico nisso", reflete o diretor. "É como se ele estivesse dizendo 'conheço as regras do jogo melhor que ninguém, e ainda assim escolho enfrentá-las com leveza'."
Fãs atentos notarão que o assobio é a mesma melodia que Bludworth usou no primeiro Final Destination — um detalhe que Todd sugeriu pessoalmente durante as filmagens. "Ele nos lembrou que, em 2000, aquele assobio foi improvisado", conta Stein. "Voltar a ele 24 anos depois foi sua maneira de fechar o círculo."
Por que a morte nunca pegou Bludworth?
Uma das perguntas mais persistentes da franquia é: como Bludworth sobreviveu tanto tempo conhecendo os segredos da morte? Bloodlines finalmente aborda isso, ainda que de forma sutil. Em sua cena-chave, Todd deixa escapar que "algumas almas são poupadas não por acaso, mas por dever" — uma linha que os roteiristas Jeff Howard e Guy Busick desenvolveram após longas conversas com o ator.
"Tony nos contou que sempre imaginou Bludworth como um tipo de Charon moderno", revela Howard, referindo-se ao barqueiro da mitologia grega que conduzia as almas ao submundo. "Não um vilão, mas um guia necessário. Essa perspectiva mudou completamente nossa abordagem."

O tributo que quase aconteceu
Originalmente, o roteiro incluía uma sequência onde Bludworth visitava o cemitério do primeiro filme, passando pelos túmulos de personagens icônicos como Clear Rivers (Ali Larter) e Alex Browning (Devon Sawa). "Era nosso modo de conectar os filmes", admite Busick, "mas Tony achou que distrairia da mensagem central. Ele queria que Bloodlines fosse sobre olhar para frente, não para trás."
Em vez disso, Todd propôs um monólogo onde seu personagem reflete sobre como cada geração reinventa seu medo da morte. "Ele trouxe páginas de anotações sobre pandemias, mudanças climáticas e ansiedades modernas", lembra Lipovsky. "Infelizmente, não conseguimos incluir tudo, mas você pode sentir essa profundidade em sua atuação."
A cena pós-créditos que os fãs nunca verão
Os storyboards dos estúdios New Line Cinema revelam que uma cena pós-créditos foi realmente esboçada: nela, Bludworth entra em um táxi dirigido por um motorista sinistro (um possível disfarce da Morte), mas o plano foi abandonado após o falecimento de Todd. "Seria irônico demais", justifica Stein. "Na vida real, Tony estava em paz com sua jornada. Fazer seu personagem ser 'pego' no final parecia desrespeitoso."
Curiosamente, o figurino usado por Todd — seu característico terno preto com gravata vermelha — foi doado pelo ator ao acervo do Museum of the Moving Image em Nova York, junto com um bilhete que dizia: "Para quem quiser continuar a história". Um gesto que Lipovsky interpreta como "sua maneira de deixar a porta aberta, mesmo sabendo que era seu adeus".
Com informações do: Polygon