A loucura pelos cards de Pokémon atinge níveis extremos

O que levaria pessoas a enfrentar alertas de tornado apenas para garantir um pacote de cartas de Pokémon? A resposta está no lançamento da coleção Prismatic Evolutions, um conjunto super premium temático do adorável Eevee que está causando verdadeiro caos nas lojas GameStop.

Funcionários relatam cenas surreais: acampamentos improvisados com barracas e cadeiras portáteis, filas que começam dias antes do lançamento e até disputas por móveis abandonados. "Aqui o GameStop fica num shopping chique com segurança própria. Se você deixar uma cadeira, eles levam", conta um comentarista em fórum sobre o fenômeno.

O lado sombrio da colecionabilidade

Enquanto tornados devastavam estados como Kentucky, colecionadores e revendedores permaneciam em filas sob alertas meteorológicos. "Cheguei às 2h da manhã com tempestade e já havia 9 pessoas em barracas", relata outro participante da discussão.

Apesar dos esforços da The Pokémon Company para aumentar a produção desde 2022, a escassez persiste - especialmente para itens premium como este conjunto de US$90. O problema? Revendedores que compram em massa para lucrar no mercado secundário, onde algumas cartas raras como a Umbreon EX podem valer até US$4.200.

  • Coleção Prismatic Evolutions tem pull rates mais baixos que o normal

  • Revendedores profissionais chegam a faturar seis dígitos com o esquema

  • Lojas como GameStop incentivam o comportamento, para desgaste dos funcionários

Quando o hobby perde a graça

O que era para ser diversão virou um mercado predatório. Colecionadores reclamam que a experiência de conseguir cartas ficou tão difícil que está "destruindo a diversão" do jogo. Nas palavras de um redditor: "Esse lançamento arruinou o TCG de Pokémon para muita gente, inclusive para mim".

E enquanto revendedores seguram produtos selados esperando valorização, a The Pokémon Company enfrenta o dilema de como atender tanto colecionadores genuínos quanto esse mercado paralelo que parece só crescer. Será que algum dia veremos normalidade nas prateleiras das lojas de games?

O impacto nos funcionários e nas lojas

Por trás da febre dos colecionadores, há uma realidade menos glamourosa para os funcionários das lojas. Relatos em fóruns de varejo descrevem situações insustentáveis: "Tivemos que chamar a segurança três vezes na mesma manhã", conta um gerente de GameStop que pediu anonimato. "São adultos brigando por cartinhas como se fossem crianças no recreio."

Algumas lojas implementaram sistemas de senhas ou limites por cliente, mas essas medidas muitas vezes geram mais conflitos. "Quando anunciamos que só tínhamos 20 unidades, um cara começou a gritar que tinha dormido na rua à toa", relata outro funcionário. A tensão é tão grande que algumas franquias menores simplesmente desistiram de vender os produtos mais cobiçados.

As estratégias dos revendedores profissionais

Enquanto isso, os revendedores profissionais refinam seus métodos. Alguns contratam "filas fantasmas" - pessoas pagas apenas para ocupar lugar nas filas. Outros usam scanners para identificar pacotes com cartas raras antes mesmo de comprá-los, uma prática tecnicamente ilegal mas difícil de fiscalizar.

"É um jogo de gato e rato", explica um moderador de grupo de investimento em TCG. "Quando as lojas limitam compras por CPF, eles trazem familiares. Quando exigem abertura na loja, migram para compras online com bots." Plataformas como eBay e Mercado Livre estão repletas de anúncios de coleções seladas com markup de 300% ou mais.

  • Grupos no Telegram e Discord coordenam ataques a lojas específicas

  • Métodos de identificação de pacotes evoluíram para incluir pesagem e escaneamento

  • Alguns revendedores viajam entre estados seguindo o calendário de lançamentos

Efeitos colaterais na comunidade Pokémon

Para jogadores casuais e crianças, o cenário atual é desanimador. Pais relatam dificuldade em encontrar produtos básicos como decks iniciais, enquanto eventos locais de TCG sofrem com a escassez. "Meu filho de 10 anos queria começar a jogar, mas tudo está esgotado ou caro demais", lamenta uma mãe em postagem viral no Twitter.

Alguns colecionadores veteranos estão migrando para jogos menos populares, onde os produtos ainda estão disponíveis a preços razoáveis. "Depois de 15 anos colecionando Pokémon, estou dando uma chance para Digimon", confessa um membro ativo da comunidade. "Pelo menos consigo comprar os produtos no lançamento."

A The Pokémon Company prometeu aumentar a produção novamente em 2024, mas especialistas duvidam que isso resolva o problema. "Enquanto houver mercado secundário lucrativo, os revendedores vão continuar dominando", analisa um economista especializado em mercados de colecionáveis. "É basicamente uma versão nerd do mercado de sneakers."

Com informações do: Polygon