O terror como reflexo do nosso tempo

2025 está se revelando um ano excepcional para o cinema de terror - talvez um dos melhores de todos os tempos. Historicamente, o gênero sempre floresceu em períodos de turbulência social e política. Os filmes de tortura dos anos 2000, como "Jogos Mortais" e "Hostel", foram uma resposta ao 11 de setembro e às técnicas de "interrogatório aprimorado" do governo americano. Já a febre dos slashers nos anos 1980 refletia a repressão da Era Reagan.

E hoje? Bem, o mundo está uma bagunça. E o terror, como sempre, tenta processar e dar sentido a tudo isso - e tem feito isso de forma espetacular. Desde novas sequências de franquias consagradas até descobertas independentes e originais surpreendentes dos grandes estúdios, 2025 tem oferecido de tudo. E ainda nem chegamos na temporada de Halloween! Fique atento, pois atualizaremos esta lista conforme novos lançamentos surgirem. Por enquanto, estes são os melhores filmes de terror do ano (até agora).

Destaques do terror em 2025

"Bring Her Back" (A24)

Cena de 'Bring Her Back'

O segundo longa dos irmãos Danny e Michael Philippou, conhecidos por seus vídeos no YouTube, é uma experiência mais sombria e perturbadora do que seu sucesso anterior "Talk to Me". Sally Hawkins entrega uma atuação magistral como uma mulher que adota duas crianças - uma delas parcialmente cega - enquanto seu filho adotivo começa a agir de forma... peculiar. O que está acontecendo nesta casa? E o que tem a ver com aquela fita VHS que ela insiste em assistir?

Embora alguns achem o ritmo lento demais, a recompensa vem no final sangrento e impactante - tão marcante quanto qualquer coisa que os diretores já fizeram. Depois desse filme, você nunca mais vai olhar para mesas do mesmo jeito.

"Together" (Neon)

Alison Brie e Dave Franco em 'Together'

Um terror sobre os perigos da codependência, estrelado pelo casal real Alison Brie e Dave Franco como um jovem casal que se muda para o interior e se envolve em algo muito mais assustador do que esperavam. Um dos raros sucessos do Sundance deste ano, o filme combina intimidade relacional desconfortável com body horror sobrenatural de forma irresistível.

"Companion" (Warner Bros.)

Cena de 'Companion'

Um dos filmes mais subestimados do ano, "Companion" se passa em um futuro próximo e acompanha vários casais em uma casa de campo. A premissa parece comum, até descobrirmos que Iris (Sophie Thatcher) é na verdade a namorada robô de Josh (Jack Quaid). Onde o filme vai a partir daí é igualmente imprevisível, com um elenco talentoso totalmente comprometido com a proposta.

"Final Destination Bloodlines"

Cena de 'Final Destination Bloodlines'

Quem diria que a sexta parcela da franquia seria a segunda melhor de todas? Em vez do grupo típico de sobreviventes, temos toda uma árvore genealógica amaldiçoada. Os diretores Zach Lipovsky e Adam Stein sabem como criar cenas de morte memoráveis, mas também entendem que precisamos nos importar com os personagens para que suas mortes tenham impacto.

"The Monkey" (Neon)

Cena de 'The Monkey'

Uma adaptação de Stephen King tão sangrenta e maluca que parece um filme para assistir com amigos numa festa do pijama. Theo James interpreta um dos gêmeos que recebeu um macaco de brinquedo amaldiçoado na infância - quando o macaco bate seus pratos, alguém morre de forma horrível. Anos depois, ele parte em uma missão para destruir o brinquedo antes que cause mais danos.

"Presence" (Neon)

Cena de 'Presence'

Steven Soderbergh e David Koepp criaram um filme de fantasma contado inteiramente do ponto de vista do fantasma. A câmera flutua pela casa enquanto acompanhamos o drama familiar e tentamos decifrar quem é o fantasma e o que ele quer. Com apenas 85 minutos, o filme não perde tempo e entrega uma experiência única.

"Heart Eyes" (Sony)

O assassino de 'Heart Eyes'

O filme mais injustiçado do ano, "Heart Eyes" funciona porque seu tom oscila habilidosamente entre comédia romântica e slasher. O Assassino Heart Eyes caça casais no Dia dos Namorados, e desta vez ele persegue Olivia Holt e Mason Gooding - que na verdade acabaram de se conhecer. Forçados a sobreviver a uma longa noite, eles acabam se apaixonando no processo.

"28 Years Later" (Sony)

Cena de '28 Years Later'

Danny Boyle e Alex Garland retornam ao mundo pós-apocalíptico que criaram, ignorando os eventos de "28 Weeks Later". Desta vez, acompanhamos um pai (Aaron Taylor-Johnson) e seu filho (Alfie Williams) em uma missão perigosa pelo interior da Grã-Bretanha em quarentena. Com inspiração no clássico "Kes" de Ken Loach e uma trilha sonora marcante do grupo Young Fathers, o filme tem uma sensação única.

"Weapons" (New Line Cinema)

Josh Brolin em 'Weapons'

O aguardado seguimento de "Barbarian" por Zach Cregger é um épico ambicioso que mistura tons e estilos com abandono alegre. Em Maybrook, Pensilvânia, um grupo de crianças desaparece misteriosamente às 2:17 da manhã. Julia Garner, Josh Brolin e Alden Ehrenreich lideram o elenco neste thriller que explora como uma comunidade processa o luto e a violência.

"Sinners" (Warner Bros)

Cena de 'Sinners'

Ryan Coogler usou todo o capital acumulado com "Creed" e "Pantera Negra" para realizar este projeto pessoal: um musical de vampiros repleto de simbolismo e contexto histórico. Michael B. Jordan interpreta os irmãos Smokestack, que planejam abrir um bar no Mississippi dos anos 1930 - até que um vampiro (Jack O'Connell) aparece para transformar os frequentadores em criaturas da noite.

"Sinners" explora desde a importância dos negócios negros até o poder transcendente do blues, com o vampirismo servindo como metáfora cultural. Com uma trilha sonora marcante de Ludwig Göransson, Coogler criou uma obra-prima que desafia categorizações fáceis.

O terror além das telas: tendências e análises

O que esses filmes revelam sobre o estado atual do gênero? Primeiro, notamos uma forte tendência de narrativas que misturam horror com outros gêneros - musical ('Sinners'), comédia romântica ('Heart Eyes'), drama familiar ('Bring Her Back'). Essa hibridização sugere que os cineastas estão buscando novas formas de contar histórias assustadoras, indo além das fórmulas tradicionais.

Outro padrão interessante é o retorno de franquias clássicas com abordagens renovadas. 'Final Destination Bloodlines' e '28 Years Later' não são meras sequências, mas reinterpretações criativas que mantêm o espírito dos originais enquanto exploram novos territórios narrativos. Será que estamos vendo o renascimento do horror de franquia?

O papel das plataformas de streaming

Vale destacar como os serviços de streaming estão moldando o gênero. Enquanto a A24 e a Neon continuam dominando o cenário do terror art-house, plataformas como Netflix e HBO Max estão investindo pesado em produções originais de horror. Ainda não vimos nenhum filme de streaming nesta lista - será que 2025 será o ano em que essas plataformas finalmente produzirão um terror digno de premiação?

O horror como veículo social

Muitos desses filmes carregam mensagens sociais poderosas. 'Sinners', por exemplo, usa a metáfora dos vampiros para discutir apropriação cultural e resistência negra. 'Companion' explora nossa relação cada vez mais complexa com a tecnologia e a inteligência artificial. E 'Weapons' parece ser uma reflexão sobre violência armada e trauma coletivo.

Essa camada adicional de significado transforma o terror de mero entretenimento em algo mais profundo e relevante. Afinal, não é exatamente isso que os melhores filmes do gênero sempre fizeram? De 'Noite dos Mortos-Vivos' a 'Corra!', o horror sempre foi um espelho da sociedade.

O que ainda está por vir em 2025

E o ano ainda não acabou! Alguns dos lançamentos mais aguardados estão programados para o último trimestre, tradicionalmente a temporada forte do gênero. Aqui estão algumas produções que podem entrar nessa lista em breve:

  • 'Nosferatu' - O remake de Robert Eggers promete ser uma experiência visualmente deslumbrante e psicologicamente perturbadora

  • 'Wolf Man' - Com Ryan Gosling no papel principal, este relançamento da Universal pode revitalizar o subgênero de lobisomens

  • 'The Black Phone 2' - A sequência do sucesso de 2022 traz Ethan Hawke de volta como o terrível Grabber

  • 'Salem's Lot' - Finalmente chegando aos cinemas após anos de adiamentos, esta adaptação de Stephen King pode surpreender

O fenômeno do terror independente

Enquanto isso, o cenário independente continua fervilhando. Festivais como Fantasia, Sitges e Sundance têm revelado pérolas como 'Hereditary' e 'The Babadook' no passado - quem será a próxima sensação do terror autoral? Rumores sugerem que um filme chamado 'The Offering', feito com orçamento mínimo por cineastas estreantes, está causando frisson nos circuitos de festivais.

E você? Qual desses filmes já assistiu? Com qual está mais ansioso para ver? O terror de 2025 está mostrando que o gênero está mais vivo (ou morto-vivo?) do que nunca, continuando sua tradição de refletir nossos medos mais profundos de maneiras criativas e inesperadas.

Com informações do: The Wrap