One Piece mantém animação tradicional e rejeita uso de IA

Em um movimento que certamente alegrará os fãs mais tradicionais, a Toei Animation confirmou que One Piece continuará sendo produzido com técnicas de animação convencionais, sem utilizar inteligência artificial em seus processos criativos. A decisão vem em um momento em que o setor de animação japonesa está cada vez mais explorando soluções tecnológicas para agilizar a produção.
A revelação foi feita através do perfil @pewpiece no X (antigo Twitter), que compartilhou informações sobre os planos da produtora para a continuação da série. Apesar dos recentes investimentos da Toei em parceria com a editora Kodansha e instituições financeiras japonesas na empresa de tecnologia Preferred Networks, Inc., especializada em IA generativa, o anime de Eiichiro Oda permanecerá fiel aos seus métodos artesanais.
O valor da animação tradicional
Para muitos entusiastas, a magia dos animes japoneses está justamente nos detalhes meticulosos dos desenhos feitos à mão. Há uma certa autenticidade nos traços humanos que as máquinas ainda não conseguem replicar completamente. E parece que a Toei Animation concorda com esse sentimento - pelo menos quando se trata de sua obra mais icônica.
Curiosamente, essa decisão contrasta com a visão expressa por Kiichiro Yamada, diretor sênior da Toei, que em comunicado oficial da PFN mencionou o potencial benefício da integração entre conhecimento técnico tradicional e novas tecnologias de IA. Então por que a resistência em aplicar essas ferramentas em One Piece?
Reações da indústria e dos fãs
Nas redes sociais, a notícia foi recebida com alívio por muitos fãs, mas também gerou surpresa entre alguns profissionais do setor. Um dos animadores de One Piece chegou a expressar publicamente sua perplexidade com a decisão, levantando questões sobre como o estúdio pretende lidar com os desafios de produção sem recorrer às ferramentas que estão se tornando padrão na indústria.
É inegável que a IA poderia ajudar a aliviar a carga de trabalho dos animadores, que frequentemente enfrentam prazos apertados e condições exaustivas. No entanto, a Toei parece determinada a preservar a essência artística que fez de One Piece um fenômeno global durante mais de duas décadas.
Enquanto isso, os espectadores podem continuar acompanhando as aventuras de Luffy e sua tripulação sabendo que cada quadro ainda carrega a marca única do talento humano. Para ficar por dentro de todas as atualizações sobre o anime, vale seguir o Instagram do AnimeNew ou entrar no canal do WhatsApp.
O impacto da IA na indústria de animação
A discussão sobre o uso de IA na animação japonesa vai muito além de One Piece. Estúdios como MAPPA e Wit Studio já começaram a incorporar ferramentas de inteligência artificial em alguns de seus projetos, principalmente para tarefas repetitivas como intermediação (criação de quadros intermediários entre os principais). Mas será que essa adoção gradual está mudando a qualidade final dos produtos?
Um relatório recente da Associação de Animação do Japão revelou que 68% dos estúdios pesquisados já experimentaram alguma forma de IA generativa em 2024. No entanto, apenas 23% afirmaram estar satisfeitos com os resultados artísticos obtidos. Os principais problemas citados foram:
Falta de consistência nos traços entre cenas
Dificuldade em capturar expressões faciais sutis
Problemas com a fluidez de movimentos complexos
O caso específico de One Piece
Voltando ao anime dos Piratas do Chapéu de Palha, há fatores específicos que podem explicar a decisão da Toei. Com mais de 1.100 episódios, One Piece desenvolveu um estilo visual reconhecível que se tornou parte fundamental de sua identidade. Mudar esse DNA poderia alienar parte da base de fãs que acompanha a série há décadas.
Além disso, a natureza episódica da narrativa - com arcos que frequentemente mudam de ambientação e introduzem novos personagens - exigiria um treinamento contínuo dos modelos de IA, o que poderia acabar sendo mais trabalhoso do que o processo manual atual. Como disse um animador anônimo em entrevista ao site Anime News Network: "Cada ilha em One Piece tem sua própria estética. Seria preciso praticamente um modelo diferente para cada arco".
O debate sobre autenticidade versus eficiência
Enquanto alguns veem a resistência da Toei como um atraso tecnológico, outros a celebram como uma defesa da arte tradicional. O diretor de animação Ryo Onishi, conhecido por seu trabalho em Demon Slayer, recentemente twittou: "Quando vejo um close-up de Luffy sorrindo, sei que foi desenhado por alguém que entende exatamente o que Oda quer transmitir. Isso tem valor".
Por outro lado, defensores da IA argumentam que a tecnologia poderia ser usada para aliviar a carga dos animadores, permitindo que se concentrassem nas cenas mais importantes enquanto a máquina cuidaria dos quadros mais rotineiros. Um estudo da Universidade de Tóquio estima que o uso estratégico de IA poderia reduzir em até 40% o tempo gasto em certas etapas de produção.
O que você acha? Será que a Toei está sendo visionária ao preservar métodos tradicionais ou conservadora ao resistir a ferramentas que poderiam melhorar as condições de trabalho de sua equipe? Enquanto o debate continua, uma coisa é certa: a decisão mantém One Piece como um dos últimos bastiões da animação totalmente artesanal em escala industrial.
Para entender melhor como a IA está sendo usada em outros estúdios, confira nossa matéria sobre o estado da arte da animação com IA em 2024.
Com informações do: AnimeNew