O último filme da franquia tem altos e baixos inesperados

Tom Cruise não conseguiu aterrissar perfeita em Missão: Impossível – Acerto Final. O oitavo filme da série apresenta algumas das cenas de ação mais impressionantes já filmadas, mas também mergulha em momentos arrastados e diálogos cansativos que deixam a desejar.

Tom Cruise em cena de ação em Missão: Impossível

Grandes cenas de ação em meio a problemas narrativos

Como era de se esperar de um filme estrelado por Tom Cruise, Acerto Final tem sequências de tirar o fôlego. O ator salta entre aviões em pleno voo, enfrenta labirintos submarinos cheios de mísseis e até participa de uma luta de facas usando shorts curtíssimos – uma clara inspiração em John Wick.

Mas entre essas cenas espetaculares, o filme sofre com:

  • Excesso de flashbacks que lembram os piores episódios de reprise

  • Diálogos pesados e cheios de clichês sobre o "destino" de Ethan Hunt

  • Referências forçadas a filmes anteriores da franquia

Cena de ação com aviões em Missão: Impossível

O que funciona e o que não funciona

O elenco secundário brilha, especialmente Hayley Atwell como Grace, que rouba várias cenas com seu carisma e habilidades físicas. Há até uma sequência inesperada onde ela aprende a conduzir um trenó puxado por cães – completamente desnecessária para a trama, mas encantadora.

Por outro lado, a inteligência artificial antagonista (chamada de "Entidade") é uma das vilãs mais sem graça da franquia. Suas cenas de confronto com Ethan acontecem em uma sala de realidade virtual que mais parece uma aula maçante sobre seu plano maligno.

Cena de luta com facas em Missão: Impossível

A cena que vale o ingresso

A sequência final com os aviões é, sem dúvida, o ponto alto do filme – e talvez de toda a carreira de Tom Cruise. Durante vários minutos sem cortes, vemos Ethan Hunt se equilibrando em aviões que fazem manobras arriscadas, com Cruise claramente fazendo as cenas sem dublê. É uma coreografia de ação que deixa qualquer espectador boquiaberto.

Mas será que uma única cena espetacular é suficiente para salvar um filme de quase três horas? Para fãs hardcore da franquia, talvez sim. Para o público geral, a resposta pode ser mais complicada.

Tom Cruise em cena dramática em Missão: Impossível

O legado da franquia e os desafios de encerrar uma saga

Depois de 27 anos e oito filmes, Missão: Impossível enfrenta o mesmo dilema de outras franquias de longa data: como encerrar uma história que foi construída para ser infinita? Os roteiristas tentam dar peso emocional ao destino de Ethan Hunt, mas caem na armadilha de diáculos como "Esta foi sempre a sua missão final" – frases que soam mais como marketing do que como desenvolvimento orgânico de personagem.

Curiosamente, os momentos mais autênticos vêm das referências visuais aos filmes anteriores. Há uma bela homenagem à cena do helicóptero no túnel de Missão: Impossível 2, agora refeita com tecnologia atual. Mas essas saudades do passado levantam uma questão incômoda: será que a franquia está mais interessada em celebrar seu próprio legado do que em contar uma história nova?

Tom Cruise em cena de ação em Missão: Impossível

O paradoxo Tom Cruise: quando o compromisso vira obstinação

Não há como negar o comprometimento físico de Tom Cruise, que aos 61 anos continua realizando cenas que atores décadas mais jovens recusariam. Mas em Acerto Final, essa dedicação começa a parecer mais teimosia do que arte. Em várias cenas, a câmera foca demais nos olhos arregalados de Cruise, como se quisesse provar que ele realmente está lá – um efeito que distrai mais do que impressiona.

O filme também repete o erro comum em produções de ação modernas:

  • Cenas de perseguição que se estendem além do necessário

  • Exposição excessiva de regras e sistemas ("A Entidade só pode ser derrotada se...")

  • Momentos de tensão artificial criados por prazos arbitrários

O que poderia ter sido: oportunidades perdidas

Uma das maiores decepções é o tratamento dado ao personagem de Rebecca Ferguson, Ilsa Faust. Após ser uma das melhores adições à franquia nos filmes anteriores, ela recebe um arco narrativo apressado que parece mais um acerto de contas nos bastidores do que uma escolha criativa. Há rumores não confirmados de que Ferguson teria tido conflitos com a produção sobre a direção de seu personagem.

Outra oportunidade perdida foi explorar de forma mais profunda o tema da inteligência artificial. Em vez de uma reflexão sobre tecnologia e humanidade, temos um vilão genérico que fala em monólogos e aparece como holograma – uma versão menos interessante de Skynet ou Ultron.

Cena de ação com aviões em Missão: Impossível

O futuro da franquia além de Ethan Hunt

Com Acerto Final sendo anunciado como o último filme de Cruise como Ethan Hunt, os produtores claramente estão testando possíveis substitutos. Hayley Atwell tem carisma e habilidades físicas para liderar a franquia, mas seu personagem Grace oscila entre ser uma protagonista em potencial e um interesse romântico descartável. Em uma cena particularmente constrangedora, ela precisa ser resgatada três vezes em sequência – um retrocesso para uma franquia que antes empoderava personagens femininas como Ilsa Faust.

Talvez o maior problema seja que Missão: Impossível nunca soube se quer ser uma série de filmes independentes ou uma saga contínua. Acerto Final tenta ser ambas as coisas e acaba não sendo totalmente satisfatório como nenhuma delas. Os fãs podem se perguntar: vale a pena continuar a franquia sem a combinação única de Tom Cruise e do diretor Christopher McQuarrie?

Com informações do: Polygon