Metaphor: ReFantazio - Uma obra-prima que desafia convenções

Metaphor: ReFantazio, o aclamado RPG de 2024 desenvolvido pelo Studio Zero e publicado pela Atlus, conquistou não apenas elogios da crítica mas também prêmios importantes, culminando em seu lançamento no Xbox Game Pass. O jogo é fruto da mente criativa de Katsura Hashino, Shigenori Soejima e Shoji Meguro - o mesmo trio por trás dos recentes jogos da série Persona - que elevou Metaphor a um patamar artístico único.

O Buscador: muito mais que uma classe

O jogo nasceu do desejo da equipe de explorar e compreender o que é "fantasia". Embora seja um dos temas centrais da narrativa, essa ideia encontra sua representação mais elegante no Arquétipo do Buscador em Metaphor: ReFantazio.

Muitos RPGs utilizam sistemas de classes (ou sistemas de empregos) para oferecer aos jogadores mais liberdade criativa no combate. O conceito evoluiu ao longo dos anos, desde classes fixas até sistemas onde os personagens podem alternar entre diferentes funções. No entanto, por mais inovadoras que sejam as classes - como o Starseer de Octopath Traveler ou o Performer de Bravely Default - elas geralmente são projetadas pensando principalmente em suas habilidades de combate.

Tela de combate em Metaphor: ReFantazio

Image: Studio Zero/Atlus via Polygon

Fantasia como verbo, não como substantivo

Em Metaphor: ReFantazio, os Arquétipos funcionam de maneira similar a outros sistemas de classes - qualquer personagem pode aprender todos os Arquétipos disponíveis. Entre eles encontramos conceitos clássicos como Cavaleiro, Ladino, Mago e Curandeiro. Mas é no Arquétipo inicial do protagonista, o Buscador, que as ideias por trás de Metaphor realmente brilham.

Este Arquétipo não representa o que o personagem faz em combate, mas como ele vê o mundo. Em entrevista ao Studio Zero, os desenvolvedores explicaram:

"Para criar uma fantasia, você primeiro precisa ser curioso. Deve ultrapassar os limites da realidade e imaginar todo tipo de coisa, como como seria se existisse magia ou monstros. Criei o Buscador com a ideia de que o tema deste trabalho, 'o poder de enfrentar a ansiedade', vem da noção de que devemos tentar explorar que tipo de mundo é este para as pessoas que vivem nele, e como ele pode ser mudado."

O personagem principal como Buscador

Image: Studio Zero/Atlus via Polygon

Em termos de combate, o Buscador causa dano Cortante com seu ataque básico ou dano de Vento usando a magia Cyc. Este Arquétipo também oferece habilidades de suporte sólidas para as primeiras batalhas, sendo capaz de curar e fortalecer membros do grupo. Mas ele não foi projetado para representar um espadachim ou duelista de algum tipo. Embora útil em batalha, o Buscador é, acima de tudo, o espírito da fantasia, a materialização da capacidade de fantasiar.

Ao definir o Buscador como o Arquétipo principal do protagonista, o Studio Zero demonstra como utilizou todos os elementos do jogo para reforçar seus temas centrais. A disposição para desafiar o desconhecido e buscar o que deseja é o que o Buscador representa. Suas capacidades de combate são secundárias - são apenas os meios dados para alcançar esses ideais.

Um sistema de Arquétipos que reflete a jornada pessoal

O que torna o sistema de Arquétipos de Metaphor: ReFantazio verdadeiramente especial é como ele evolui organicamente junto com a narrativa. Enquanto em muitos RPGs as classes são simplesmente ferramentas de combate, aqui elas se tornam extensões do desenvolvimento emocional dos personagens. Cada novo Arquétipo desbloqueado representa não apenas novas habilidades, mas novas formas de enxergar o mundo.

Combate que recompensa criatividade

O sistema de combate de Metaphor: ReFantazio complementa perfeitamente sua filosofia de Arquétipos. Ao contrário de muitos RPGs que incentivam otimizações matemáticas, aqui a experimentação é constantemente recompensada. Misturar habilidades de diferentes Arquétipos frequentemente produz resultados surpreendentes - tanto visualmente quanto mecanicamente.

Uma combinação particularmente interessante é usar o Arquétipo de Bardo para debilitar inimigos com canções, seguido pelo Arquétipo de Alquimista para explorar suas fraquezas recém-expostas. Essas sinergias não são apenas eficazes - elas contam pequenas histórias sobre como diferentes abordagens podem se complementar. Afinal, que melhor maneira de representar "fantasia" do que através de combinações inesperadas que desafiam a lógica tradicional?

E falando em desafiar a lógica, o jogo introduz um fascinante sistema de "Combate Improvisado" onde certas ações no campo de batalha podem desencadear eventos únicos baseados nos Arquétipos ativos da equipe. Usar o Arquétipo de Ladino para roubar um item específico durante uma batalha contra um certo chefe, por exemplo, pode revelar um diálogo completamente novo que muda o contexto do confronto.

Mundo narrativo que responde às suas escolhas

O que talvez seja mais impressionante em Metaphor: ReFantazio é como o mundo do jogo reage organicamente ao seu Arquétipo principal. Enquanto a maioria dos RPGs trata a classe do personagem como uma mera estatística, aqui ela influencia diálogos, eventos aleatórios e até mesmo a progressão da história de maneiras sutis mas significativas.

Viajar pelo mundo como um Buscador, por exemplo, frequentemente desbloqueia opções de diálogo que enfatizam curiosidade e descoberta. Já adotar o Arquétipo de Cavaleiro pode fazer com que NPCs o tratem com mais respeito formal, mas também com certa distância. Essas nuances criam uma sensação rara nos RPGs - a de que suas escolhas mecânicas têm peso narrativo real.

Em uma cena memorável no segundo ato do jogo, meu personagem - então usando o Arquétipo de Erudito - conseguiu resolver um conflito através do debate filosófico em vez do combate. Dias depois, ao retornar à mesma vila como um Mercenário, os mesmos NPCs reagiam com medo e desconfiança. São esses detalhes que transformam Metaphor de um bom RPG em uma experiência verdadeiramente única.

O jogo também inova na forma como lida com o tradicional sistema de "dias" dos jogos da Atlus. Em vez de simplesmente limitar suas ações por dia, o tempo em Metaphor flui de maneira mais orgânica, com certas atividades consumindo mais ou menos tempo dependendo do seu Arquétipo atual. Estudar na biblioteca como um Erudito pode levar apenas algumas horas, enquanto treinar como um Guerreiro pode consumir quase um dia inteiro.

Com informações do: Polygon