A Netflix revelou detalhes aguardados sobre Leviathan, a adaptação em anime da aclamada série de livros steampunk de Scott Westerfeld, mesmo autor de Uglies. A produção chegará à plataforma globalmente em 10 de julho, prometendo uma fusão entre narrativa ocidental e a maestria técnica da animação japonesa.

Um universo alternativo à beira da guerra

Ambientado numa versão alternativa de 1914, Leviathan nos transporta para um mundo dividido entre duas tecnologias bélicas: os imponentes mechs de guerra das Potências Centrais contra as criaturas geneticamente modificadas das nações Aliadas. A trama acompanha o príncipe herdeiro Aleksandar, em fuga após o assassinato de seus pais, e Deryn Sharp, uma jovem audaciosa que se disfarça de homem para servir na força aérea. Seus destinos se entrelaçam a bordo do Leviatã - uma colossal nave viva que pode decidir o rumo do conflito global.

Ilustração do anime Leviathan com elementos steampunk

Equipe criativa de peso e estúdios renomados

A responsabilidade pela animação está nas mãos do prestigiado Studio Orange, conhecido por suas revolucionárias técnicas 3D em obras como BEASTARS e Trigun Stampede, em parceria com a Qubic Pictures (Eden, Star Wars: Visions). O que me surpreende particularmente é o calibre do time musical: a trilha cinematográfica fica por conta de Nobuko Toda e Kazuma Jinnouchi (Ghost in the Shell: SAC_2045), enquanto as canções originais são assinadas pelo lendário Joe Hisaishi, compositor de obras-primas do Studio Ghibli como A Viagem de Chihiro.

O elenco de dublagem japonês traz nomes como:

  • Ayumu Murase (voz de Hinata em Haikyuu!!) como o Príncipe Aleksandar

  • Natsumi Fujiwara (Shun em Horimiya) como Deryn Sharp

Expectativas e precedentes

Fãs podem esperar revelações adicionais durante o evento especial em 6 de junho, que incluirá detalhes sobre a pré-estreia mundial e um painel na Anime Expo com as equipes criativas da Qubic Pictures e Studio Orange. Essa adaptação surge num momento interessante - a recente versão live-action de Uglies, outra obra de Westerfeld, recebeu críticas mistas por não capturar plenamente a essência dos livros. Será que o formato anime, com sua liberdade visual ilimitada, conseguirá traduzir melhor o imaginário steampunk e biopunk de Leviathan?

Observando o histórico do Studio Orange em adaptar obras complexas, a escolha parece promissora. O estúdio demonstrou com BEASTARS uma capacidade única de transmitir nuances emocionais através da animação 3D. E com Hisaishi envolvido na parte musical, temos a perspectiva de uma trilha sonora que poderá elevar a narrativa a novos patamares. Resta saber se a série conseguirá equilibrar a escala épica das batalhas com a intimidade do desenvolvimento dos personagens centrais.

Desafios e oportunidades na adaptação visual

Um dos maiores desafios para a equipe de animação será traduzir visualmente a dicotomia tecnológica que define o universo de Leviathan. Como representar de forma convincente os imponentes walkers de metal das Potências Centrais ao lado das criaturas geneticamente modificadas dos Aliados? O Studio Orange já demonstrou maestria na criação de personagens animais antropomórficos em BEASTARS, mas aqui o desafio é ainda mais complexo. Imagino como será a textura da pele do Leviatã - essa nave viva que é ao mesmo tempo veículo de guerra e ecossistema flutuante. Será que usarão técnicas de renderização diferentes para contrastar o frio metal dos mechs com a carne pulsante das criaturas biônicas?

Outro ponto interessante: como equilibrar o estilo de design japonês com as descrições detalhadas de Westerfeld? Nas ilustrações originais de Keith Thompson, os traços têm uma estética europeia muito característica. Vi alguns fãs nas redes sociais questionando se o visual dos personagens manterá essa influência ocidental ou se seguirá padrões mais familiares aos espectadores de anime. Particularmente, acho que a escolha de Ayumu Murase para Aleksandar é intrigante - sua voz normalmente associada a personagens energéticos como Hinata pode trazer uma nova dimensão ao príncipe em fuga.

O peso da trilha sonora e o legado de Hisaishi

A participação de Joe Hisaishi nas canções originais adiciona uma camada extra de expectativa. Como compositor das trilhas sonoras de Hayao Miyazaki, Hisaishi tem o dom único de criar melodias que encapsulam mundos inteiros. Pergunto-me: que instrumentos utilizará para representar a tensão entre biologia e máquina? Talvez ouçamos metais marciais para os walkers mecânicos contrastando com arranjos orgânicos de cordas para as criaturas vivas. O interessante é que Toda e Jinnouchi, responsáveis pela trilha cinematográfica, têm experiência em cyberpunk - como em Ghost in the Shell. Essa combinação de talentos musicais pode gerar algo verdadeiramente único.

Um colega que trabalha com produção musical me comentou recentemente sobre o desafio de compor para mundos steampunk: "Você precisa criar sons que soem ao mesmo tempo vintage e futuristas, como máquinas que nunca existiram mas parecem plausíveis". Essa dualidade será crucial para imergir os espectadores na Europa alternativa de 1914 que Westerfeld construiu. Afinal, o som dos motores a diesel dos walkers precisa parecer tão real quanto os rugidos das bestas fabricadas.

Potenciais desafios narrativos

Adaptar um livro tão rico visualmente traz riscos significativos. Lembro-me de como certas adaptações de fantasia acabaram sacrificando o desenvolvimento dos personagens em detrimento de cenas de ação espetaculares. No caso de Leviathan, temos uma oportunidade única: explorar as complexidades de Deryn disfarçada de homem em um ambiente militar - tema que ressoa profundamente com discussões contemporâneas sobre gênero e identidade. Será que a série dedicará tempo suficiente a essa dimensão psicológica, ou focará principalmente nas sequências aéreas a bordo do Leviatã?

Outro aspecto fascinante é a construção do mundo político. Westerfeld não apenas recria a Primeira Guerra Mundial com elementos fantásticos, mas reconta eventos históricos reais através dessa lente alternativa. Como fã de história, fico especialmente curioso sobre como a série abordará figuras como o Arquiduque Franz Ferdinand (cujo assassinato desencadeia o conflito no livro) dentro desse universo reimaginado. A Netflix terá liberdade para explorar essas nuances geopolíticas, ou simplificará o contexto para audiências mais jovens?

O sucesso de Trigun Stampede mostrou que o Studio Orange pode reinventar propriedades estabelecidas sem perder sua essência. Mas adaptar uma obra literária ocidental é um território diferente de reinterpretar um anime clássico. A pressão é palpável - especialmente considerando a recepção morna da adaptação live-action de Uglies. Conversando com booktubers brasileiros, muitos expressaram preocupação sobre possíveis simplificações da trama, enquanto outros estão ansiosos para finalmente verem as cenas de batalha aérea entre criaturas voadoras e canhões mecânicos.

Com informações do: Polygon