O conflito entre gerações do humor
Jeff Ross, conhecido como o "Rei dos Roasts", revelou uma história curiosa sobre seu primeiro evento de comédia de insultos. Segundo ele, o lendário Milton Berle, que já era uma lenda viva na época, tentou sabotar sua performance porque estava recebendo muitas risadas do público.
"Ele simplesmente não parava de me interromper", contou Ross em entrevista recente. "Acho que ficou incomodado por um novato estar roubando a cena."
O legado de Milton Berle
Milton Berle, que faleceu em 2002 aos 93 anos, era considerado o "Tio Miltie" da televisão americana. Pioneiro da comédia na TV, ele dominou os primeiros anos da programação televisiva nos EUA, ganhando o apelido de "Mr. Television".
No entanto, seu estilo de humor mais tradicional e familiar contrastava bastante com o humor ácido e politicamente incorreto que Ross e outros comediantes de roast trouxeram para o mainstream. Essa diferença geracional pode explicar o atrito entre os dois.
A evolução da comédia de insultos
O incidente revela como a comédia está em constante transformação. O que era considerado ofensivo ou inapropriado em uma geração pode se tornar o padrão na seguinte. Ross, que hoje é um dos nomes mais respeitados no ramo dos roasts, na época era visto como um jovem rebelde desafiando as convenções.
Interessante notar como esses eventos de roast, que começaram como jantares privados entre comediantes, se transformaram em espetáculos televisivos massivos. O próprio Ross foi fundamental nessa transição, ajudando a popularizar o formato para novas audiências.
O jogo de poder nos palcos de comédia
O relato de Ross sobre Berle revela um aspecto pouco discutido do mundo da comédia: a hierarquia implícita entre comediantes. "Há sempre uma dinâmica de poder nesses eventos", explica o crítico de comédia Daniel Fernandes. "Veteranos como Berle cresceram num ambiente onde respeito à senioridade era lei não escrita."
Ross, por outro lado, representava uma nova geração que valorizava mais o talento bruto do que o tempo de carreira. "Eu não estava lá para fazer amigos, estava lá para fazer rir", brincou o comediante em outra ocasião. Essa postura, embora eficaz para conquistar o público, nem sempre agradava aos colegas de profissão.
O impacto da rivalidade criativa
Curiosamente, esse tipo de tensão entre gerações muitas vezes acaba beneficiando a arte. "Quando você tem alguém tentando te derrubar no palco, isso te obriga a ser melhor", refletiu Ross. Ele conta que começou a preparar respostas mais afiadas e a estudar mais a fundo o trabalho dos veteranos, justamente para se defender desses desafios.
O próprio Berle, décadas antes, havia passado por situações semelhantes quando desafiava os padrões da comédia de vaudeville. Parece haver um ciclo quase natural de resistência e adaptação que impulsiona a evolução do humor.
O lado humano por trás das piadas
Por trás da rivalidade profissional, Ross revela ter desenvolvido um respeito genuíno por Berle ao longo dos anos. "No final das contas, ele estava apenas protegendo seu território", admitiu. "E eu? Eu estava invadindo mesmo, sem pedir licença."
Essa reflexão mostra como até mesmo os conflitos aparentemente negativos podem ter camadas mais profundas. Muitos comediantes veteranos, incluindo Berle, acabaram se tornando mentores informais para a nova geração - mesmo que as lições tenham vindo em forma de desafios difíceis no palco.
O episódio também levanta questões interessantes sobre autoria e propriedade no mundo da comédia. Afinal, quem "dona" uma risada? O veterano que construiu o palco ou o novato que está roubando a cena? Essa tensão criativa continua viva em eventos de comédia até hoje.
Com informações do: Entertainment Weekly