Rick & Morty: Criadores revelam abordagem da 8ª temporada
A oitava temporada de Rick & Morty chegou com a mesma dose de caos criativo que consagrou a série, mas com uma abordagem diferente em relação ao cânone estabelecido nas temporadas anteriores. Em entrevista ao Polygon, Dan Harmon e Scott Marder, criador e showrunner respectivamente, revelaram que não se preocuparam em desenvolver a mitologia da série nesta leva de episódios.
"Você pode se surpreender, mas nunca começamos uma temporada pensando 'qual é o cânone que devemos desenvolver?'", explica Marder. "Essa é a parte mais trabalhosa e não necessariamente como queremos começar uma temporada."
O equilíbrio entre episódios isolados e arcos contínuos
A série sempre navegou entre histórias episódicas e elementos de continuidade, mas Harmon compara a abordagem atual com séries clássicas: "É menos episódico que Hércules ou Xena, mas muito mais episódico que Yellowjackets."
Marder complementa: "Idealmente, o programa é atemporal, geralmente episódico. Mas estamos de olho em elementos serializados, momentos em cada temporada que mantêm todos engajados."

Os desafios de desenvolver personagens após tantas temporadas
Um dos maiores desafios citados por Harmon foi evitar a "flanderização" de Rick - quando um traço de personalidade se torna a única característica de um personagem. "Como evitar que House se torne patético na 10ª temporada de House?", questiona o criador, fazendo uma analogia.
Marder revela que a temporada explora Rick em um "estado de aposentadoria": "O que ele faz agora que essa vingança acabou? Ele está lidando com a família agora, lidando com as Beths."
A divisão de Beth em duas versões do personagem também se mostrou um terreno fértil para desenvolvimento: "Uma parte de você literalmente vive o caminho menos percorrido", explica Marder sobre o arco da personagem nesta temporada.

Ideias que resistem ao tempo (e às tentativas frustradas)
Os roteiristas mantêm um "caderno de ideias" que resistem às tentativas de implementação. "Toda temporada, alguém novo vê 'loop temporal' no quadro e acha que pode resolver", conta Marder entre risos. "Três dias depois, lembramos porque não fizemos esse episódio."
Harmon compara o processo à mitologia marítima: "É como uma ilha em um mapa pré-colombiano na galera de um navio. Algum novo marinheiro chega perguntando 'O que são as Galápagos?' E nós dizemos 'Sentem-se e eu conto uma história!'"
A evolução da dinâmica familiar na série
Um dos aspectos mais interessantes da oitava temporada é como a família Smith/Sanchez continua se redefinindo. "Há uma ironia deliciosa em Rick, que sempre desprezou laços familiares, agora ter que lidar com versões duplicadas da própria filha", observa Harmon. "É como se o universo estivesse forçando ele a enfrentar todas as consequências de suas ações passadas."
Morty, por sua vez, está passando por uma fase diferente. "Ele não é mais aquele garoto assustado da primeira temporada", comenta Marder. "Agora temos um Morty que já viu de tudo, mas ainda mantém aquela essência que o torna cativante. O desafio é equilibrar seu crescimento com a dinâmica central da série."
O processo criativo por trás dos episódios
A sala de roteiristas de Rick & Morty parece um laboratório de ideias malucas. "Temos paredes cheias de post-its com conceitos que variam do brilhante ao completamente absurdo", revela Harmon. "Às vezes um episódio nasce de uma piada que alguém solta no almoço."
Marder descreve um método peculiar: "Fazemos um exercício chamado 'e se...' onde levamos uma premissa ao extremo. Por exemplo: 'E se Rick inventasse um dispositivo que transformasse memórias em objetos físicos?' Daí surgem discussões sobre como isso afetaria os personagens e o universo."
O showrunner também menciona a importância de manter um equilíbrio: "Toda temporada precisa ter pelo menos um episódio que seja puro caos cósmico e outro que seja intimista. Os fãs podem não perceber, mas há uma matemática por trás dessa loucura."
Referências e homenagens que só os verdadeiros fãs pegam
A série é conhecida por suas camadas de referências, e a oitava temporada não é diferente. "Temos piadas que só fazem sentido se você assistiu episódios específicos da terceira temporada", brinca Marder. "Mas nunca sacrificamos a diversão imediata por isso. Se você pegar a referência, ótimo. Se não, ainda vai rir."
Harmon revela um detalhe curioso: "Há um easter egg em um episódio que referencia uma cena cortada da quarta temporada. Só três pessoas no mundo saberão o que significa, mas isso nos diverte."
O futuro da série além da oitava temporada
Quando questionados sobre planos futuros, a dupla mantém o mistério. "Temos ideias que podem preencher mais dez temporadas", diz Harmon. "Mas também podemos encerrar tudo amanhã se acharmos que a história chegou ao seu fim natural."
Marder acrescenta: "O que posso adiantar é que estamos explorando conceitos que desafiam até mesmo nossa compreensão do multiverso da série. Rick pode ter encontrado seu limite, mas nós certamente não."
Uma coisa é certa: a equipe não pretende ceder à pressão por respostas rápidas. "As melhores revelações surgem organicamente", explica Harmon. "Quando tentamos forçar algo para agradar aos fãs, geralmente o episódio fica ruim. Preferimos seguir nossa intuição criativa."