O caminho até a sala de cinema é muitas vezes repleto de reviravoltas, e os finais dos filmes de super-heróis raramente estão escritos em pedra. Várias produções da Marvel e DC já foram finalizadas de maneiras radicalmente diferentes durante testes de audiência, reshoots ou mudanças criativas de última hora. Essas alterações podem transformar completamente o tom, o significado e até mesmo o futuro de uma franquia.
Mudanças que redefiniram universos cinematográficos
Algumas alterações são tão significativas que é difícil imaginar o universo cinematográfico sem elas. O final de Homem de Ferro (2008), por exemplo, era bem diferente. No roteiro original, Tony Stark não iria revelar sua identidade ao mundo em uma conferência de imprensa. Essa decisão de última hora, sugerida por Robert Downey Jr., não apenas se tornou um momento icônico, mas estabeleceu a pedra fundamental para todo o MCU: a ideia de que heróis não precisam se esconder. Foi um risco que valeu a pena, criando um contraponto direto ao segredo que define o Homem-Aranha e o Batman.
E falando em Batman, Batman vs Superman: A Origem da Justiça sofreu uma das mudanças mais comentadas. O corte original de Zack Snyder tinha uma sequência de sonho extensa e complexa envolvendo o Flash viajando no tempo, que deixou muitos espectadores de teste confusos. A versão teatral simplificou drasticamente essa cena, tornando-a mais uma premonição vaga do que uma explanação sobre multiversos. A decisão, embora compreensível na época, removeu camadas de profundidade que os fãs de Snyder lamentaram até a liberação do Snyder Cut anos depois.
Finais que alteraram o destino de personagens
Às vezes, a mudança decide entre a vida e a morte. No final filmado para Guardiões da Galáxia (2014), o personagem de Rocket Raccoon acabava tragicamente sacrificado. Os realizadores perceberam que matar um dos personagens mais carismáticos e com mais coração do filme era um erro colossal, especialmente tão cedo na franquia. A escolha de mantê-lo vivo não apenas permitiu seu desenvolvimento emocional, mas garantiu que ele se tornasse uma peça central emocional nos filmes seguintes.
Já em Thor: Ragnarok, Taika Waititi filmou um final onde Loki, mais uma vez, pegava o Tesseract e desaparecia, deixando sua lealdade ambígua. No entanto, testes de audiência pediram por um momento de maior união entre os irmãos, levando à cena final no navio onde Thor coroa Loki como rei de Asgard – um momento de genuíno afeto fraternal que pavimentou o caminho para sua complexa dinâmica em Vingadores: Guerra Infinita.
O impacto dos testes de audiência nas narrativas
O processo de teste de audiência é frequentemente vilipendiado, mas pode salvar um filme de si mesmo. Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um caso recente. Rumores indicam que um final muito mais sombrio foi filmado, onde a América Chavez não conseguia controlar seus poderes e Strange, corrompido pela Darkhold, se tornava uma ameaça multidimensional que precisava ser contida. A reação negativa a um desfecho tão pessimista para o herói titular provavelmente forçou os reshoots que resultaram no final mais esperançoso, embora ainda ambíguo, que vimos.
É um lembrete constante de que esses filmes, por maiores que sejam, são produtos colaborativos. A visão de um diretor é filtrada por estúdios, produtores e, em última instância, pelo público. O que chega aos cinemas é, muitas vezes, um compromisso. E embora possamos romanticar a 'visão do diretor' inalterada, quantos finais alternativos nós, o público, realmente preferiríamos? Às vezes, o consenso leva a um produto final mais coeso e comercialmente viável, mesmo que à custa de uma ousadia artística singular.
Reações dos fãs e o poder da cultura de cortes alternativos
E não podemos ignorar como a internet transformou completamente essa dinâmica. Antes, um final alternativo era uma curiosidade de DVD, um easter egg para os fãs mais hardcore. Hoje, é um evento. Vazamentos, rumores e speculations tomam conta do Reddit e do Twitter semanas – às vezes meses – antes da estreia. Lembram do frenesi em torno do final de Vingadores: Ultimato? Circulavam teorias malucas sobre o destino do Capitão América e do Homem de Ferro, algumas baseadas em gravações clandestinas de sets de filmagem. A expectativa se torna parte da narrativa.
Isso cria uma pressão imensa nos estúdios. Eles não estão apenas decidindo o final de um filme; estão gerenciando a reação de uma base de fãs global e hiperconectada. A decisão de alterar o final de Suicide Squad (2016) após a recepção morna do trailer é um exemplo clássico. A mudança de tom, inserindo mais piadas e cortando sequências de ação mais sombrias a pedido da Warner Bros., foi uma resposta direta ao feedback online antes mesmo do filme ser finalizado. Foi uma tentativa de acertar o rumo, mas o resultado final, muitos argumentam, ficou desconexo.
E o que dizer quando os fãs conseguem o que querem? O Snyder Cut de Liga da Justiça é o caso definitivo. Não foi apenas a liberação de uma visão alternativa; foi a validação de anos de campanha de fãs. Isso estabeleceu um precedente perigoso e empoderador. Agora, todo filme com uma produção conturbada gera petições online. Será que estamos caminhando para um futuro onde os finais são decididos por popular vote? Acho que não chegará a esse ponto, mas a voz do fandom certamente tem um assento na mesa de maneira que nunca teve antes.
O que ficou no corte da sala de edição: casos menos conhecidos
Enquanto os grandes casos ganham toda a atenção, algumas mudanças curiosas passam despercebidas. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, a cena pós-créditos original era bem diferente. Em vez do hilário – e um tanto cruel – silêncio entre o Capitão América e os adolescentes, havia uma cena que aprofundava a conexão entre Adrian Toomes (o Abutre) e Mac Gargan (o Escorpião) na prisão, estabelecando de forma mais explícita a formação dos Seis Sinistros. A troca foi feita para manter o tom leve e cômico do filme, adiando uma teia narrativa mais sombria para sequências futuras.
Até mesmo o sombrio Batman do Cavaleiro das Trevas teve seu final ajustado. A cena em que o Comissário Gordon quebra o bat-sinal era originalmente mais longa e melancólica, com Alfred olhando para o horizonte com uma expressão de luto profundo. Christopher Nolan optou por um final mais ambíguo e menos sentimental, focando no simbolismo do herói que se sacrifica. Foi uma mudança sutil, mas que elevou o final de 'triste' para 'legendário'.
E por falar em sentimentos, o final de WandaVision quase foi muito mais doloroso. Rumores de bastidores sugerem que, em uma versão inicial, Wanda não apenas perdia a família que criou, mas também tinha seus poderes drasticamente reduzidos ou selados como punição por seu sequestro mental de uma cidade inteira. A decisão de deixá-la poderosa, aceitando sua dor e partindo para estudar o Darkhold, foi uma jogada de gênio. Transformou-a de vilã trágica em uma anti-heroína complexa e imprevisível, preparando perfeitamente o terreno para sua escalação em Multiverso da Loucura.
O processo é fascinante, não é? Nos faz questionar quantas versões de nossos momentos favoritos do cinema existem, trancadas em algum cofre digital ou na memória de um roteirista. Cada alteração, seja grande ou pequena, é um registro de um 'e se?' monumental. E isso me faz pensar: será que algum dia teremos acesso a um arquivo completo desses finais alternativos? Um museu digital de universos cinematográficos que nunca foram. Seria uma viagem ainda mais alucinante do que qualquer multiverso já explorado na tela.
Com informações do: Comicbookmovie