Uma preocupação comum nos filmes de dragões
Quando assistimos a filmes como Como Treinar o Seu Dragão, uma dúvida sempre surge: como os personagens conseguem se comunicar tão facilmente com criaturas míticas? Afinal, dragões não falam a língua humana - ou será que falam?
O filme da DreamWorks poderia ter ignorado completamente essa questão, como muitas produções do gênero fazem. Mas em vez disso, optou por uma abordagem simples e encantadora que merece reconhecimento.
A solução elegante do filme
Ao invés de inventar uma linguagem complexa ou recorrer a telepatia, Como Treinar o Seu Dragão mostra que a comunicação entre humanos e dragões se desenvolve gradualmente, como qualquer relacionamento real. Soluço e Banguela aprendem a se entender através de:
Tentativa e erro
Observação cuidadosa
Paciência e persistência
Linguagem corporal e expressões faciais
Não há mágica instantânea - apenas o esforço genuíno de duas espécies diferentes tentando se conectar. E é justamente essa simplicidade que torna a história tão cativante.
Por que essa abordagem funciona
Em minha experiência como espectador, a decisão dos roteiristas de não recorrer a explicações fantásticas para a comunicação entre espécies adiciona uma camada de realismo à fantasia. Isso nos permite acreditar que, em um mundo onde dragões existem, qualquer um poderia desenvolver esse vínculo - com tempo e dedicação.
Quantas vezes já vimos filmes onde humanos e animais (ou criaturas mágicas) se entendem perfeitamente sem qualquer explicação? Como Treinar o Seu Dragão nos lembra que a comunicação verdadeira requer trabalho - e que esse processo pode ser tão interessante quanto o resultado final.
Comparando com outras abordagens cinematográficas
Quando colocamos Como Treinar o Seu Dragão lado a lado com outras franquias que envolvem comunicação entre espécies, a diferença salta aos olhos. Enquanto filmes como Eragon optam por telepatia instantânea ou Harry Potter usa a língua das cobras como dom especial, a abordagem da DreamWorks parece quase revolucionária em sua simplicidade.
Lembre-se da primeira vez que Soluço tentou se comunicar com Banguela - foi desastrosa, engraçada e completamente humana. Quantos de nós já não passamos por situações semelhantes tentando nos conectar com um animal de estimação ou até mesmo com alguém de outra cultura?
O realismo por trás da fantasia
O que muitos não percebem é que o filme está mostrando, na verdade, um processo muito semelhante ao que ocorre no treinamento animal real. Adestradores profissionais passam anos desenvolvendo:
Sinais visuais consistentes
Respostas a estímulos específicos
Ritmos e padrões de comunicação
Confiança mútua
Não é coincidência que os vikings de Berk usem técnicas que lembram muito o clicker training moderno ou o reforço positivo. Os roteiristas claramente fizeram sua lição de casa sobre comportamento animal.
O papel da animação na comunicação não-verbal
Aqui está algo fascinante: sem poder contar com diálogos complexos entre espécies, os animadores tiveram que trabalhar dobrado para transmitir emoções e intenções. Observe como:
Os olhos de Banguela dilatam e contraem como os de um gato
Suas orelhas se movem independentemente, expressando humor
A cauda reage instintivamente ao seu estado emocional
Esses detalhes fazem toda a diferença - você quase consegue prever o que Banguela vai fazer antes mesmo de Soluço entender. É uma masterclass em storytelling visual que muitas produções live-action gostariam de alcançar.
Quando a falta de linguagem se torna vantagem
Curiosamente, a ausência de diálogos falados entre humano e dragão cria momentos cinematográficos mais poderosos. Quem pode esquecer a cena emocionante onde Soluço, finalmente compreendendo Banguela, remove sua prótese e se mostra vulnerável? Toda essa comunicação acontece sem uma única palavra - apenas olhares, gestos e expressões.
Isso nos faz pensar: quantas vezes a linguagem verbal realmente atrapalha a comunicação genuína? O filme sugere que talvez sejamos nós, humanos, que complicamos demais algo que poderia ser tão simples quanto um olhar compreensivo ou um gesto de confiança.
Com informações do: Cinema Blend