Artistas de VFX da Marvel e Disney aprovam primeiro contrato sindical
Após anos de condições desafiadoras, profissionais de efeitos visuais conquistam melhorias significativas em seus contratos de trabalho.

© Marvel Studios
Uma vitória histórica para os artistas de efeitos visuais
Dois anos após votarem pela sindicalização, os artistas de efeitos visuais que trabalham para Marvel, Disney e a franquia Avatar finalmente conseguiram aprovar seus primeiros contratos coletivos. Com o apoio da IATSE (International Alliance of Theatrical Stage Employees), os três grupos de trabalhadores votaram "esmagadoramente" a favor de contratos que garantem melhores condições para quem trabalha nesses projetos de grande escala.
Os contratos - um para Marvel/Disney e outro para a Lightstorm, produtora de Avatar - incluem aumentos salariais mínimos, acesso a planos de pensão da IATSE e penalidades por atrasos nas refeições.
Diferenças entre os acordos
O contrato da Lightstorm oferece algumas particularidades interessantes:
Direitos preferenciais de contratação para futuros filmes de Avatar
Novas escalas salariais baseadas em semana de 40 horas
Taxas mínimas para sexto e sétimo dias de trabalho
Proteções contra mudanças tecnológicas e terceirização
Cláusulas sobre uso de IA inspiradas no Acordo Básico da IATSE
Já o acordo Marvel/Disney inclui:
Pagamento adicional por condições perigosas de trabalho
Garantias de saúde e conforto durante longos períodos de pós-produção
Descrições claras de cada função
Mecanismos legais para aplicação do contrato
Uma conquista que vai além dos contratos
Cael Liakos-Gilbert, um coordenador de VFX da Marvel, descreveu a aprovação do contrato como "não apenas uma vitória para nós, mas uma vitória muito necessária para toda a indústria de efeitos visuais". Ele acrescentou: "Ver isso se concretizar após mais de dois anos como organizador, negociador e agora como membro fundador do sindicato é um dos momentos mais orgulhosos da minha vida."
Justin Meade, coordenador de câmera virtual da Lightstorm, ecoou o sentimento: "Mais uma forma de nossa equipe liderar a indústria, e eu espero profundamente que outras equipes de VFX sigam nosso exemplo e votem pela sindicalização. Nosso poder está em nosso trabalho, e nossas vozes são ouvidas através de nossa solidariedade."
O movimento de sindicalização ganhou força após relatos em 2022 sobre condições extremas de trabalho em projetos com muitos efeitos visuais, sendo Marvel e Disney apontadas como as piores nesse aspecto. Os novos contratos terão validade de quatro anos (Marvel/Disney) e três anos (Avatar).
O impacto na indústria e os próximos passos
Essa vitória sindical pode representar um ponto de virada para toda a indústria de efeitos visuais, que tradicionalmente opera com prazos apertados, orçamentos reduzidos e condições de trabalho muitas vezes insustentáveis. Com os estúdios agora obrigados a negociar com os artistas de VFX como um coletivo, especialistas preveem que:
Outras produtoras podem ser pressionadas a seguir o mesmo caminho
Os padrões salariais terão que ser reavaliados em toda a indústria
O fluxo de trabalho em pós-produção pode se tornar mais humano e sustentável
A qualidade dos efeitos visuais pode melhorar com equipes menos sobrecarregadas
Desafios persistentes e críticas
Apesar do avanço, alguns profissionais expressaram preocupações sobre como os contratos serão implementados na prática. "A Marvel tem histórico de ignorar protocolos quando está sob pressão para entregar um filme", comenta um artista que preferiu não se identificar. "O verdadeiro teste será ver se o estúdio respeitará essas regras quando estiver contra o prazo de lançamento de um novo Vingadores."
Outro ponto de tensão é a questão da terceirização. Embora os novos contratos incluam cláusulas para limitar a prática, muitos efeitos visuais ainda são produzidos por estúdios internacionais com condições trabalhistas muito diferentes. "Enquanto não houver um esforço global de sindicalização, os estúdios sempre poderão ameaçar levar o trabalho para outros países", alerta uma produtora de VFX com 15 anos de experiência.
O papel da tecnologia e da IA
As cláusulas sobre inteligência artificial nos novos contratos são particularmente relevantes, considerando o rápido avanço de ferramentas como:
Geração automatizada de assets digitais
Remoção de objetos e substituição de fundos
Renderização acelerada por aprendizado de máquina
Animação facial e corporal baseada em IA
"Negociamos proteções importantes, mas a tecnologia evolui mais rápido que os contratos", observa Liakos-Gilbert. "Teremos que revisitar essas questões com frequência para garantir que os artistas não sejam substituídos, mas sim capacitados por essas ferramentas."
Reações dos estúdios e do público
A Disney e a Marvel mantiveram um silêncio relativo sobre os novos contratos, limitando-se a comunicados padrão sobre "respeitar o processo de negociação". Já os fãs parecem divididos: enquanto alguns celebram as melhorias para os criadores por trás de seus filmes favoritos, outros temem que os custos adicionais possam:
Aumentar os preços dos ingressos
Reduzir a quantidade de conteúdo produzido
Criar atritos que atrasem lançamentos
Nas redes sociais, hashtags como #VFXUnionStrong e #FairVFX ganharam força, com muitos artistas compartilhando histórias pessoais sobre as condições que os levaram a buscar representação sindical. "Trabalhei 72 horas seguidas em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa", revelou um técnico de simulações. "Quase perdi meu casamento por causa daquele projeto."
O que esperar nos próximos meses
Com os contratos assinados, a atenção agora se volta para:
A implementação concreta das novas regras
Possíveis esforços de sindicalização em outros grandes estúdios
O impacto nos orçamentos de produções futuras
Negociações com plataformas de streaming, que operam sob modelos diferentes
Enquanto isso, a IATSE já anunciou planos para expandir seus esforços de organização para outros grupos de profissionais de VFX, incluindo aqueles que trabalham em:
Séries de televisão
Produções independentes
Estúdios de videogames
Plataformas de realidade virtual
Com informações do: gizmodo